24 de março de 2016 era lançado o que deveria ser o melhor filme de super-heróis do ano, porém, chegou ao cinema a obra mais controversa do gênero. Batman vs Superman – A Origem da Justiça trazia em seu tema uma das batalhas mais constantes e que rendeu grandes histórias nos quadrinhos de DC Comics, mas o filme foi massacrado pela crítica e apesar de boa bilheteria (US$ 873,2 milhões), o longa de Zack Snyder não alcançou a marca de 1 bilhão como era esperado.
Mas entre esses prós e contras, Batman vs Superman é um filme ruim?
Com um ano de seu lançamento oficial nos cinemas brasileiros sendo completado hoje (24), resolvemos assistir novamente o filme e destacar alguns pontos que fizeram de Batman vs Superman o grande divisor de águas que foi no ano passado, e dar nosso veredito sobre o filme, é claro.
Um Batman que mata, e um Superman que não traz esperança…
Uma das grandes reclamações do filme são os retratos, digamos que inéditos, dos dois maiores super-heróis da DC Comics. Com um Batman extremamente violento e que mata seus inimigos e um Superman dramático que não traz esperança, aos olhos de alguns, o filme exagerou, sim, em sua forte carga dramática ao trabalhar o processo que jogava o herói contra o vigilante. Apesar disso, combinada a morte de Superman no final do longa, o personagem acabou se tornando um mártir por ter sacrificado sua vida para salvar a terra, mais uma vez.
A visão dada aos personagens no filme não é exatamente o ponto fraco da questão, o grande problema disso é criar um conceito aberto demais à interpretações. Sendo assim, há momentos em que Batman vs Superman mostra que o Homem de Aço é a força da salvação – vide a cena em que ele salva pessoas de um incêndio e quando resgata uma família de uma enchente, que exaltam a figura mitológica do Deus que é retratado no filme. Porém, o agravante da situação é exaltar apenas a parte questionável das ações do Superman. Assim, os acidentes de percurso ganharam mais importância do que as coisas que herói fez de bom. Mas isso é errado? Não.
Zack Snyder trouxe uma visão adulta, pessoal e coerente quanto a isso, afinal mesmo que um Deus esteja salvando a vida de milhões, não há como esquecer as centenas que foram perdidas durante este trajeto. Por isso, a figura do Homem de Aço é tão questionável, e também, é por isso que o conflito ético do personagem está tão presente/abalado durante o filme. Mas no fim, Superman morreu como um herói.
Por outro lado, Batman sempre teve sua ética a margem de dúvidas, afinal o Homem-Morcego nem sempre optou por seguir a lei. Além disso, sim, o Batman mata e isso não é nenhuma surpresa. Mas a sua figura heroica é construída em momentos diferentes, como quando é associado a figura de Superman ou quando as pessoas/Gotham precisam dele. Porém, por estar velho, cansado e não ter a paciência que tinha antes, Bruce Wayne foi facilmente manipulado pelos planos de Lex Luthor, enquanto tentava iniciar um plano de contenção contra alienígenas e meta-humanos – confirmado na cena pós-crédito de Esquadrão Suicida, por que se as coisas saírem do controle, alguém precisa fazer alguma coisa.
Apesar de não trazer os clássicos retratos dos personagens, Batman vs Superman mostra os perigos que ambos têm de enfrentar, sejam ameaças poderosas como as de Doomsday, ou até mesmo a ganância humana de Lex Luthor. E afinal, o Universo DC começa, sempre, com grandes conflitos – vide a animação Liga da Justiça: Guerra e a própria série animada da Liga da Justiça, onde invasões alienígenas provam a união de um grupo de super-heróis para salvar a terra.
O Lex Luthor certo, vivido pelo ator errado!
Jesse Eisenberg foi a escolha certa, visualmente, para viver Lex Luthor no cinema, já que no início dos anos 2000 Kevin Spencer não deu certo para o papel – quando interpretou o personagem em Superman – O Retorno. Porém, apesar de elaborar um grande plano e sequestrar Martha Kent, a atuação de Jesse Eisenberg foi um grande problema. Cheio de tiques nervosos e mais parecendo uma mistura de Coringa com algum personagem meramente hiperativo, o ator teve apenas alguns lapsos de Lex Luthor, e assim não convenceu como o grande vilão da história.
Estes lapsos, que Eisenberg tinha durante o filme, funcionam como um leve agouro na personalidade egocêntrica do personagem, que mais parecia um doido varrido do que realmente um dos maiores vilões do Superman. Um reflexo negativo da construção do personagem foi feito pelo roteiro subjetivo do filme, e disso não há dúvida. O primeiro ato, apesar de interessante, é complexo e não deixa claro as suas intenções, mas posteriormente se torna eficiente ao ligar os pontos da trama e amarrar todo o plano do vilão. Lex, no fim, bolou um plano que poucos poderiam criar, complexo, sim, mas do nível que o personagem precisava.
Jesse Eisenberg não desempenhou um grande vilão, mas apesar da atuação que desconstrói a imagem do personagem as suas ações durante o longa foram ótimas e eficientes. O equívoco está apenas na escolha do ator, e não no conceito do personagem dentro do contexto do filme.
Zack Snyder, o melhor diretor de super-heróis em 2016…
Sem dúvida esta é uma afirmação polêmica, mas a questão principal é: o melhor diretor do gênero, no ano passado, é aquele que fez tudo certinho ou aquele que tentou fugir do normal e entregar algo realmente novo ao filmes de super-heróis? Com certeza o público não quer ir ao cinema para ver apenas “mais um filme de super-herói“, e a crítica (seja ela amadora ou especializada) muito menos. Snyder tentou e quase conseguiu entregar um filme incrível à altura da grandiosidade que a história e os personagens exigiam, porém, o diretor pesou a mão em diversos momentos do filme no quesito visual, que é uma de suas especialidades.
Apesar destes deslizes, Snyder repetiu a essência da câmera em movimento que deu certo em Homem de Aço (2013), combinando com a estética sombria e levemente sofisticada de Batman vs Superman. Além do mais, Zack Snyder sabe filmar e coreografar cenas de ação como poucos e o filme traz lutas memoráveis – vide a cena do Batman no deserto, a cena em que ele salva Martha Kent e principalmente a abertura do filme, com a morte dos Wayne sendo mostrada de uma forma incrivelmente original.
Batman vs Superman é o filme que se distanciou do formato do gênero no ano passado, devido a ousadia de Zack Snyder ao saber da grandeza do material que tinha em mãos e da dedicação precisava ter ao saber que a história não poderia trazer mais do mesmo em um ano com Guerra Civil, X-Men: Apocalipse, Esquadrão Suicida e Doutor Estranho – que independente de seus resultados, eram títulos grandiosos.
Roteiro problemático, piadas ruins, péssima montagem e um tom oscilante…
Nada é perfeito no cinema, tanto que não há um filme que agrade 100% do público (seja fã ou não), e Batman vs Superman, mesmo que ousado, estava a léguas de distância da perfeição. Talvez, junto com o roteiro, o grande problema do longa seja a sua montagem, que gerou diversas reclamações, principalmente rotulando o filme como uma junção de videoclipes. Um exagero, sem dúvidas, mas mesmo assim isso continua sendo um problema grave.
Os cortes bruscos com a junção de algumas cenas tornavam a experiência estranha em determinados momentos, mesmo que o filme apresente cenas marcantes e bem feitas como a abertura e a forma como é desenvolvida a luta entre os dois heróis. Somado a isso, o roteiro confuso do primeiro ato, que começa a juntar suas peças do meio para o final, só colabora com a confusão do conjunto final.
Com o roteiro não sendo o ponto forte do filme, já era de se esperar que as piadinhas fora de tom (“Ela está com você?… Não, achei que estivesse com você.“, “Eu sou amigo do seu filho… É, eu sei, a capa.“) construíram momentos desnecessariamente embaraçosos no filme, principalmente porque as únicas piadas eram as ironias de Martha Kent (Jeremy Irons), e não a galhofagem comicamente trágicas das cenas já citadas. Por tanto, o conjunto da obra ainda se fazia totalmente contraditório aos pontos elogiados do filme, principalmente porque a história sofre de momentos que na cabeça dos roteiristas eram melhores, mas na prática a história foi bem diferente – Martha que o diga.
Mulher-Maravilha e a trilha sonora de Hans Zimmer
Se há algo praticamente unanime em Batman vs Superman é a Mulher-Maravilha de Gal Gadot. A personagem não tem um grande destaque em tela, são pequenas participações ao longo da trama e a batalha no ato afinal, basicamente. Apesar disso, as aparições de Diana chamam a atenção, e somadas aos momentos de batalha que a personagem teve, temos então o por quê dela ter um dos filmes mais aguardados de 2017. Sem falar que a trilha sonora da personagem – “Is She With You?” feita por Hans Zimmer e Junkie XL – é uma das melhores do filme.
Aliás, é fato afirmar que a trilha sonora assinada por Hans Zimmer e a Junkie XL é impecável e uma das melhores coisas do filme. E essa trilha é a responsável por dar o tom grandioso e endeusador aos personagens e aos grandes momentos do filme. Lex Luthor, inclusive, possui um tema musical totalmente vilanesco, que combina perfeitamente com as ardilosidades do vilão. É correto afirmar, que a trilha de Batman vs Superman foi uma das melhores de 2016, algo que já era de se esperar pelos nomes envolvidos.
O veredito final:
Batman vs Superman é cheio de defeitos, assim como praticamente todos os filmes, pois como já foi dito aqui é impossível um filme agradar 100% do público e da crítica, principalmente se partirmos do ponto que ninguém é obrigado a gostar de tudo. Com o fan service exagerado de Zack Snyder, que se redime com a sua direção ousada e diferenciada, o roteiro que complica o que deveria ser fácil e a mão pesada do CGI, a luta entre os titãs da DC Comics deixou a desejar, mas o filme ainda é ótimo e não deixa de ser um belo serviço aos fãs.
Conceitualmente interessante, o filme ainda se sobressai por ser o mais diferente entre os longas de super-heróis do ano passado e não merece o repúdio exagerado da crítica especializada. Sendo um completo divisor de águas, Batman vs Superman se submete, infelizmente, ao deixar sua história aberta à melhorias, falta domínio criativo ao roteiro e personalidade para assumir as rédias da história sem se esconder dela mesma. Sim, Lex Luthor não necessitava de tamanha complexidade, Batman poderia saber que Clark Kent era o Superman, mas bem no fim, a mente brilhante ficou por conta de Lois Lane e a boa interpretação de Amy Adams.
Batman vs Superman pode dividir o público, mas é um filme grandioso demais para mentes pequenas, afinal é impossível assistir o filme novamente e não ter novas descobertas – há sempre algo novo para notar, e isso depende apenas da boa vontade de quem assistir. E você, o que acha de Batman vs Superman – A Origem da Justiça? Comente.