Sharp Objects
Reprodução/IMDb

Adaptar Objetos Cortantes (de Gillian Flynn) para a TV como minissérie foi uma excelente escolha da HBO. O acerto do canal ainda se repete ao entregar a direção do projeto nas mãos de Jean-Marc Vellée, que em 2017 dirigiu apenas os sete episódios de Big Little Lies. Marcado, então, pelo ótimo comando da adaptação e por saber trabalhar personagens femininas fortes, Sharp Objects estreou no último domingo (08/07) com tudo nas mãos para ser a minissérie do ano.

São oito episódios que vão compor a adaptação – mesmo que a própria autora já tenha dito em entrevista que é possível existir uma segunda temporada, pois ao final do livro, pelo menos na sua cabeça, todos esses personagens seguem com as suas vidas, o que possibilidade uma continuação na TV – e ao que se viu na mostragem de uma hora do primeiro episódio, o potencial de Sharp Objects deve confirmar essa qualidade ao longo das próximas semanas. Contudo, além dos nomes qualificados por trás da produção – a série conta com Marti Noxon (O Mínimo Para Viver) assinando o roteiro de todos os episódios com colaboradores, sendo Gillian Flynn uma delas -, Sharp Objects trás, ainda, Amy Adams para interpretar Camille Preaker, a protagonista.

Amy Adams vive a melhor fase da carreira, não só pelo envolvimento em ótimos projetos, mas está no auge da sua atuação. Antes de protagonizar a minissérie, a atriz estrelou o belíssimo A Chegada, o drama de ficção científica dirigido por Denis Villeneuve (Blade Runner 2049). Além da bagagem adquirida nos últimos anos, Adams já demonstra neste primeiro episódio que foi a escolha perfeita para o papel. Camille Preaker é uma jornalista recém saída da internação – resultado de ano de automutilação – designada pelo chefe de reportagem a voltar para sua cidade natal para investigar e reportar a história de um caso de assassinato e um recente sequestro, supostamente ligados.

A volta de Camille para Wind Gap torna-se um momento difícil pra protagonista, que se vê em frente a uma investigação chocante, enquanto memórias da sua infância e adolescência voltam a tona carregadas de dor, sofrimento e melancolia.

Jean-Marc Vellée dá vida a obra de Gillian Flynn com muita personalidade. A sensação de ver Vanish (título do primeiro episódio) é de que o livro, Objetos Cortantes, foi aberto e todas as suas páginas tornaram-se, de fato, imagens vivas na tela da TV. No conjunto, a história flui sem pressa, focando no drama psicológico de Camille e sua volta para Wind Gap, onde ela se depara com memórias doloridas e um crime bárbaro.

Amy Adams dá uma interpretação impecável para Camille, entregando sentimentos verdadeiros e condizentes com aquilo que é passado pelo livro, e agora também pela série. Aliás, é cabível o elogio ao roteiro que, em quase todo o episódio, preservou com perfeição os diálogos do livro – sua competência não fica apenas colagem (no bom sentido) das palavras, mas também em entregar as mesmas sensações pesadas que a obra original dá ao seu leitor.

Como adaptação, Sharp Objetcs começa com pequenas alterações na ordem dos fatos, e desvia parte do foco sobre quem é o assassino(a). O drama reúne seus esforços na construção da personalidade das sua protagonista, explorando em flashbacks ágeis o passado que reflete no presente de Camille. Sendo assim, Jean-Marc Vellée muda o direcionamento da narrativa para priorizar a construção da história, fazendo um trabalho que revisa sua priore entre a protagonista e a sua investigação – os dois fios condutores da trama.

Sharp Objects situa o espectador a um ambiente que flerta entre o thriller e um drama melancólico, dando uma pequena amostra de tudo que será apresentado ao longo das próximas sete semanas. Vanish consegue construir um alicerce sólido para o que essa história ainda tem para contar, resta saber como o roteiro vai se comportar daqui para frente, dando o peso que vem junto do cerne da obra original ao mesmo tempo em que deve fazer o público embarcar na intensa investigação de Camille Preaker.

Sharp Objects é transmitida aos domingos pela HBO.