Apostar em uma visão sensível no momento de contar uma história é sinônimo de torná-la mais humana que o habitual, e talvez esse seja o elemento que distancia Me Chame Pelo Seu Nome das outras produções também postulantes ao Oscar de Melhor Filme. Luca Guadagnino aborda essa história de verão com a naturalidade que a mesma requerer, acertando em cheio com um dos filmes mais encantadores dos últimos anos – que estará facilmente entre os melhores do ano.
São pouco mais de duas horas de projeção, onde vemos um história fluida, bem desenvolvida e formidavelmente cadenciada. Me Chame Pelo Seu Nome (Call Me By Your Name no original) dá tempo ao tempo, deixa o espectador conhecer os personagens até que o público esteja pronto para acompanhar as mudanças dos protagonistas e até onde eles podem ser levados. A jornada de amor e cumplicidade de Elio e Oliver é uma das histórias mais envolventes da atualidade, fazendo com que juntos eles sejam ainda mais encantadores.
Luca Guadagnino compreende perfeitamente a história que está contando e desenvolve o romance com simplicidade e espontaneidade, sem forçar a barra ou querer empurrar algo indesejável ao espectador. O diretor entende que a naturalidade precisa andar lado a lado com a história, e ele consegue ter essa característica como sua grande aliada do início ao fim da projeção. A filmagem é exuberante, cheia de movimentos que acompanham os personagens, dando atenção e valorizando alguns monólogos que colocam o espectador dentro da tela do cinema quando resolvem, aos poucos, aproximar a câmera do protagonista (da cena) sem que o enquadramento fique fechado no rosto do personagem.
A direção de fotografia, de Sayumbhu Mukdeeprom, com a imagem levemente granulada, exalta perfeitamente os tons quentes do verão, deixando tudo ainda mais exuberante. O trabalho de Guadagnino e Mukdeeprom soma-se em uma combinação perfeita, onde a filmagem do diretor e a fotografia completam-se de um jeito formidável, fazendo da experiência visualmente ainda mais linda. Tudo isso junta-se a trilha sonora que evoca tanto os sentimentos dos protagonistas, como também caracteriza a cultura italiana e retrata a década de 1980 – com Love My Way (por exemplo) ressurgindo como uma das músicas que devem marcar o ano de 2018 no cinema.
Além de atingir um nível de excelência técnica com o filme, Luca Guadagnino ainda consegue deixar o elenco leve e confortável dentro do filme. Da dupla de protagonistas até mesmo os coadjuvantes que pouco aparecem, Me Chame Pelo Seu Nome esbanja boas, ótimas e excelentes atuações. O roteiro de James Ivory traz um texto primoroso, o que ajuda ainda mais o elenco a ter boas atuações. Os diálogos são por vezes muito profundos, dando a possibilidade dos personagens expressarem sentimentos que até então vivam adormecidos. Em outros momentos, a simplicidade do roteiro também reflete um grande acerto do longa, pois este não carece de exageros para chegar aonde quer.
Timothée Chalamet e Armie Hammer são impecáveis em cena, a química entre os dois não só funciona, como torna-se envolvente e apaixonante a cada minuto em que ambos aparecem na frente das câmeras. O entrosamento entre os dois reflete diretamente na espontaneidade em que o romance e a cumplicidade dos personagens surge e evoluí, além de representar muito bem os dilemas, questionamentos e profundidades dos dois personagens que permitem-se ao amor que nasce após a amizade. Me Chame Pelo Seu Nome não poderia ter uma dupla de protagonistas melhor, Timothée e Hammer protagonizam cenas que se tornarão marcantes com o tempo, mas trazem duas das melhores atuações do ano. O fator que os deixa como postulante em qualquer premiação é a humanidade dada pelo roteiro aos dois personagens, e esta ainda muito bem compreendida pelo diretor que captou a essência do que lhe foi entregue por James Ivory.
Me Chame Pelo Seu Nome ainda conta com o belíssimo monólogo de Michael Stuhlbarg, que vive o pai de Elio no filme. A cena, com tremenda profundidade ao trazer a tona sentimentos mistos do personagem que colocam muito do que foi sua vida em palavras para filho, reflete um dos momentos mais marcantes da projeção. Stuhlbarg merece, com méritos, ser mais lembrado por esta atuação, pois o conjunto da obra favorece e muito o momento em que o filme deixa o ator, de fato, atuar. A quase inexistente trilha sonora da cena valoriza ainda mais capacidade do ator em transmitir a verdade do personagem, o mesmo acontece na cena final, onde Timothée Chalamet dá a Elio o peso de toda a história que antes fora contada, exaltando ainda mais a humanidade formidável do seu personagem.
Luca Guadagnino faz de Me Chame Pelo Seu Nome uma das história de amor mais formidáveis da década. Aqui não importa exatamente se o final de Elio e Oliver será juntos, mas sim a forma como tudo isso acontece. Me Chame Pelo Seu Nome é uma história completa sobre sentimentos, humanidade, sobre a descoberta, sobre desejar, querer, ter e perder, mas principalmente sobre valorizar e não esquecer. Os ensinamentos presentes nos últimos dez minutos da projeção fazem com que Me Chame Pelo Seu Nome seja um filme sólido que consegue realizar todos os seus objetivos em sua mais plena simplicidade, que deve, sem dúvida, encantar, apaixonar e emocionar o expectador.