Um Lugar Silencioso não é um terror barato, nem um suspense cotidiano, embora use elementos comuns em sua contrução. Se em 2017, sem ao menos dar explicações ao espectador o terror psicológico Ao Cair da Noite soube construir um suspense baseado na paranoia dos seus personagens, Um Lugar Silencioso usa das “não explicações” para trazer angústia ao seu público com uma abordagem mais abrangente.
A diferença mais gritante entre ambos os filmes, além deles mesmos, é que o longa dirigido por John Krasinski não é tão segmentado quanto o de Trey Edward Shults. Mas se considerados o planejamento e a execução, temos dois filmes formidáveis. A genialidade, no entanto, de Um Lugar Silencioso é em ser um filme mais difícil e cheio de camadas generosas. Krasinski constrói um terror psicológico aterrorizador, sem deixar de dramatizar a história e pontuá-la com momentos de ternura que trazem Um Lugar Silencioso para o mundo crível.
Quase sem diálogos o filme torna-se muito sensorial com (cerca de) 90% da projeção em libras, ou apena em gestos expressivos. Um Lugar Silencioso contagia, amedronta e envolve o espectador, que se vê tentando não fazer barulho na poltrona. A experiência é, no mínimo, genuína. Além dos personagens não poderem fazer qualquer tipo de barulho, uma das personagens é, de fato, surda e muda, e a edição do longa, junto da montagem, fazem questão de inserir o espectador no ponto de vista de Regan (Millicent Simmonds), quando tudo fica em silêncio absoluto (e angustiante) na projeção.
Ao invés de dar explicações sobre tudo o que aconteceu, o que faria o filme perder tempo com um didatismo desnecessário, Um Lugar Silencioso entende que na frente da película há uma inteligência coletiva capaz de compreender as pistas que o filme lhe mostra para juntar todas as peças do quebra-cabeça. E isso confirma o quão bem executado é este longa, onde tudo que há em cena tem um sentido importante para a narrativa. Há momentos em que a câmera foca em um objeto ou acontecimento, como se estivesse dizendo ao expectador que aquilo é ou ainda será importante.
A atmosfera de Um Lugar Silencioso é uma mistura de tensão gradual com pequenos desafogos sentimentais, que fortalecem os laços daquela família. Aliás, o pé no chão de Um Lugar Silencioso torna-o, por vezes, um filme cru, sem polimento, ou seja, totalmente avassalador e poderoso. Assim como ausência de diálogos falados em quase toda a projeção, trocada por um esforço formidável do elenco que reprime todo e qualquer sentimento e reação física.
Emily Blunt, que protagoniza o longa junto do marido e diretor John Krasinski, tem seu talento gritante em tela. O que a atriz expressa quando o longa atinge o seu ápice está muito acima do que já se viu dela em outros bons e ótimos trabalhos. Krasinski e o elenco juvenil (Noah Jupe e Millicent Simmonds) não ficam por menos – já que todos têm pelo menos um momento de destaque no longa.
Marcando seu terceiro esforço como diretor de longa-metragem, John Krasinki acerta em ter uma visão muito clara e simples do que quer fazer em Um Lugar Silencioso. Por sua vez, o filme é simples, não se complica e pode agradar quem espera uma história profundo, que tem algo a dizer, ou quem quer consumir tensão e medo em sua essência mais pura. O diretor acerta, ainda, em não expor sua narrativa, fazendo com que tudo tenha uma crescente gradual até o fim da projeção.
Um Lugar Silencioso chega como forte candidato a um dos principais filmes do ano, mas sem dúvida será um dos mais diferentes e bem executados. O longa ressalta, ainda, assuntos interessantes sobre inclusão e da própria comunicação humana, que fazem dele uma espécie de Corra! (Get Out) deste ano (2018) – mas, talvez, com menos impacto social.
Transbordando tensão e contagiando seu espectador, o filme de John Krasinski não mede esforços para realizar seus objetivos ao contar com um diretor de grande visão e habilidade. O resultado é um pacotão completo de elementos que formam uma mistura homogênea capaz de enlouquecer o espectador com suas cenas de terror e tensão altamente poderosas.