Cena do filme Depois de Ser Cinza
Suzy (Branca Messina) e Raul (João Campos) em cena do filme 'Depois de Ser Cinza'. | Imagem: Divulgação.

A primeira impressão que Depois de Ser Cinza pode causar é de que é um filme de atmosfera triste ou até mesmo depressiva. Depois de assisti-lo, no entanto, fica muito claro que assim como a vida em alguns momentos as coisas podem ser mais coloridas, enquanto em outros mais acinzentadas.

Essa é uma analogia muito simples e que sintetiza parte das reflexões que Depois de Ser Cinza evoca. O filme de Eduardo Wannmacher, que chega nesta quinta-feira, 03, aos cinemas, reflete sobre como as relações afetivas ocorrem nos dias atuais. Mas mais do que isso, fala também da bagagem acumulada por cada indivíduo.

Para fazer esse retrato, o filme se desenvolve a partir das perspectivas de três mulheres. Suas histórias se cruzam por conta da presença de Raul (João Campos), cuja personalidade é moldada a partir dessas visões.

Suzy (Branca Messina), Manuela (Silvia Lourenço) e Isabel (Elisa Volpatto) aparecem na vida de Raul (João Campos) em três momentos diferentes. Enquanto aluno de pós-graduação em antropologia, ele retoma sua amizade com Suzy; Mais maduro e responsável, se relaciona com Manuela; e por fim conhece Isabel.

A partir disso, Depois de Ser Cinza desenvolve as camadas de cada um desses personagens. Nenhum deles surge em tela sem que a sua bagagem seja apresentada ao espectador. Fugir de algo, estar procurando algo em alguém ou ir atrás de satisfazer os próprios desejos, cada um desses indivíduos traz algum desses elementos consigo.

Raul (João Campos) e Isabel (Elisa Volpatto) em cena do filmes ‘Depois de Ser Cinza’. | Imagem: Divulgação.

É interessante, ainda, como esse acúmulo de experiências e frustrações afeta esses personagens, assim como aquilo que querem e esperam de algo ou alguém. A ideia do filme é justamente essa: refletir sobre as relações do hoje, onde tudo é muito intenso, rápido e líquido.

A direção de Wannmacher é um ponto bastante importante para dar vida ao roteiro de Leo Garcia. A narrativa se desenvolve de forma fragmentada, ou seja, com acontecimentos que não seguem uma linearidade. Desta forma, a construção dos personagens vai se complementando com o passar do tempo de projeção, como um simples quebra-cabeças.

Desta forma, o filme equilibra em suas cores os momentos vividos por Raul, que apesar de ser visto a partir de pontos de vistas diferentes, acaba sendo o personagem central da trama. A história ainda explora como parte importante da sua construção os cenários de Porto Alegre e as paisagens afastadas da Croácia, dando para elas contextos que ajudam a entender o momento dos personagens.

Embora possa exigir um pouco do seu espectador, Depois de Ser Cinza é um filme de personagens intensos, cujas camadas dão o tom para a narrativa. As atuações são o coração da obra, ditando não apenas o ritmo da história, mas principalmente entregando ao espectador aquilo que este precisa para criar uma relação com os personagens e os seus dramas.

Manuela (Silvia Lourenço) em cena de ‘Depois de Ser Cinza’. | Imagem: Divulgação.

Com isso em vista, o trabalho de João Campos se torna ainda mais importante ao interpretar Raul em três fases diferentes. Sua competência em dar pesos distintos ao personagem ajudam no desenvolvimento da narrativa em sua fragmentação. O mesmo se repete para Branca Messina, intérprete de Suzy, que tem uma passagem arrebatadora e intensa na vida de Raul.

Assim como ela, Silvia Lourenço entrega Manuela com uma atuação muito elegante. Ela constrói um em sua interpretação um dos momentos mais importantes do filme. Elisa Volpatto, que vive Isabel, traz para tela uma presença muito mais visceral, com uma personagem que vive um momento difícil e cheio de emoções.

Depois de Ser Cinza parece trazer uma visão pessimista das relações contemporâneas, mas deixa claro que sua intenção é se aproximar do que realmente acontece em um recorte muito específico da sociedade nos dias atuais. Com reflexões interessantes sobre o tema, o longa-metragem tem como sua grande força o quarteto de protagonistas e as suas camadas cheias de detalhes envolventes.