filme Ursinho Pooh: Sangue e Mel
Cena do filme trash "Ursinho Pooh: Sangue e Mel", que chega nesta quinta-feira, 10, aos cinemas brasileiros. | Imagem: Divulgação / Califórnia Filmes.

A expressão “gosto adquirido” é o que melhor pode definir a relação que o espectador pode criar com “Ursinho Pooh: Sangue e Mel”. Para este tipo de filme, entra em vigor um senso estético que foge do comum. Ou seja, os apreciadores do cinema trash, sem dúvida, estão muito mais propensos a gostar deste longa-metragem. Já os curiosos atraídos pela ideia de ver um Ursinho Pooh assassino podem não ser fisgados pelo filme.

É importante fazer esta reflexão, visto que a intenção de um cinema chamado de trash é justamente bater de frente com o que é hegemônico. Entende-se então que um filme trash não apenas foge do comum, como propositalmente utiliza erros e malfeitos para construir suas histórias.

Com isso, fazem parte desta estética as atuações ruins, diálogos fracos, péssimos efeitos e um enredo mal desenvolvido. No entanto, pela lógica trash, todos os seus defeitos são na verdade as suas maiores qualidades. Costumeiramente, este tipo de filme também é rotulado com a expressão “é tão ruim que é bom”. Desta forma, mesmo com sua baixíssima qualidade, um filme trash é capaz de entregar um alto nível de entretenimento ao seu público.

A questão, porém, é que todo esse conceito não é regra ou lei. Ou seja, embora a intenção desses filmes seja esta, ela ainda não garante que o objetivo de entreter, seja ele qual for, acabe sendo atingido no final. E “Ursinho Pooh: Sangue e Mel” pode ser um bom exemplo disso.

A história mostra que Pooh, Leitão e seus amigos são, na verdade, aberrações que não deveriam existir. Com uma animação bastante didática no começo do longa, o espectador conhece a história das criaturas e sua relação com Christopher Robin (nome do criador original dos personagens). Todos crescem e vivem juntos até o momento em que Christopher para de visitar os amigos e passa a frequentar a faculdade.

A partir da situação de abandono, Pooh e os amigos se rebelam contra os humanos, tornando-se grandes assassinos. Depois desta introdução, “Ursinho Pooh: Sangue e Mel” mostra a que veio, utilizando clichês conhecidos dos filmes de terror para desenvolver sua trama – neste caso, um grupo de amigas que vai para uma casa em um local afastado para se divertir.

Embora utilize todos os artifícios possíveis a seu favor, a linha entre ser um bom filme intencionalmente mal realizado e apenas um filme de baixa qualidade é muito tênue. Com isso, “Ursinho Pooh: Sangue e Mel” cumpre com todo o checklist das características de um filme trash, mas não atinge o objetivo que boa parte dos exemplares do gênero consegue: entreter.

Os personagens ganham apresentações bastante rasas, cumprindo uma das prerrogativas do gênero trash. O problema, porém, é que mesmo que essas personagens funcionem para o filme, ainda assim deixam a impressão de que o roteiro poderia ser “menos pior”.

Por outro lado, há um interessante suspense até o momento em que o espectador poderá visualizar a forma humanoide de Pooh e Leitão – este último parece muito mais distante do original. É lógico que a ideia é justamente essa: fugir do que é conhecido e apresentar algo novo – possibilidade que só existe porque agora o Ursinho Pooh está em domínio aberto. No caso de Pooh, o personagem do filme parece ter um desenvolvimento maior, afinal, ele é o chamariz do longa-metragem.

É interessante, ainda, a fisicalidade de Pooh e Leitão, ambos brutais e extremamente violentos. Mas Pooh, no entanto, tem um incremento: o diretor Rhys Frake-Waterfield resgata a fome de mel do personagem e a coloca em tela como um dos pontos mais desconfortáveis da história. Com gritos, reviravoltas mirabolantes, sangue falso e muito mel, o filme de Rhys Frake-Waterfield não ultrapassa a barreira que o colocaria junto aos bons exemplares dos filmes ruins. Embora cumpra com todos os requisitos para tal classificação, parece haver um exagero na depreciação daquilo que é tido como bom. A reflexão que fica, porém, é desta ambiguidade da intenção de um filme querer ser ruim e acabar sendo bom por, justamente, ser uma peça exemplar desta proposta.

Avaliação
Regular
5.0
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Sou jornalista, fundador e editor da Matinê Cine&TV. Escrevo sobre cinema e séries desde 2014. No jornalismo tenho apreço pelo cultural e literário, além de estudar e trabalhar com podcasts. Além dos filmes e séries, também gosto de sociedade e direitos humanos.