Há seis anos, Doutor Estranho (2016) ganhou sua primeira adaptação live action nos cinemas. Desde então, o personagem só havia feito participações nos filmes do Marvel Studios, seja elas com mais tempo de tela – como em Vingadores: Guerra Infinita (2018) – ou em menos minutos – caso do recente Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa (2021), apesar de importante no filme. Ou seja, desde o lançamento do seu filme solo, Stephen Strange (Benedict Cumberbatch) pouco teve evolução ou desenvolvimento.
Todo esse hiato entre o primeiro e o segundo filme do personagem podem ter prejudicado não apenas a sua evolução, mas principalmente a empatia do público com o seu lado mais humano. Em Doutor Estranho (2016), Stephen embarca em uma jornada de crescimento pessoal, tornando-se uma pessoa diferente, e melhor, do que era quando cirurgião. Ao entrar no mundo místico dos magos protetores da Terra, ele precisou abrir mão de outros elementos importantes da sua vida, um deles o amor por Christine (Rachel McAdams).
Embora tenha recebido este background em seu primeiro longa-metragem, tal profundidade do personagem foi deixada de lado enquanto este aparecia em outros filmes do estúdio. Além disso, Doutor Estranho era visto como um mago poderoso, um homem inteligente e um alívio cômico sempre que possível nas outras histórias em que estava presente.
Agora, com os campos projetados em WandaVision (2021), as explicações de Loki (2021) e o evento Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa (2021), era de se esperar que Doutor Estranho no Multiverso da Loucura fosse um arrasa quarteirão. Embora grandioso e espetaculoso, o filme passou longe disso.
Em Multiverso da Loucura, a Marvel retoma o tema dos inúmeros universos paralelos ao trazer para o foco a personagem America Chavez (Xochitl Gomez), cujos poderes se resumem ao privilégio de fazer viagens por qualquer universo, mesmo que sem controle. Logo nos primeiros minutos do filme dirigido por Sam Raimi, fica claro que o ritmo da obra será alucinante, ou apressado demais. A impressão é de que o longa vive o seu clímax do início ao fim.
Com esse ritmo apressado, Doutor Estranho se divide entre cuidar da Terra, enfrentar Wanda (Elizabeth Olsen) e viajar pelo Multiverso, tudo isso enquanto seu coração segue arrebatado por um amor transcendental por Christine. Ao mesmo tempo, são tantos acontecimentos que o filme não consegue deixar o espectador senti-los. O personagem principal se livra de um problema e sai logo correndo para o próximo.
Não à toa a aparição dos Iluminati mal pode ser aproveitada pelo espectador, que é agraciado pelo retorno de Patrick Stewart ao papel de Professor Xavier; presenteado com a realização de ver John Krasinski como Reed Richards; e pela satisfação de ter Lashana Lynch como Capitã Marvel. Sem falar de Peggy Carter como Captã Carter.
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura corre contra o tempo sem ao menos ter motivo para isso. A ideia do filme parece esbarrar em si mesma, já que a proposta era de dar sequência ao drama da Feiticeira Escarlate, a existência do Multiverso e o peso da frustração amorosa que o personagem principal está fadado a carregar. Desta forma, o segundo filme solo de Stephen Strange parece esquecer que se trata, principalmente, de uma nova história do seu personagem-título enquanto tenta dar conta de muitos assuntos inacabados que precisavam de um desfecho.
A sequência, não só de Doutor Estranho (2016), mas também de Sem Volta Para Casa (2021), e das séries WandaVision e Loki, está longe de ser ruim, mas não chega a atingir todo o potencial que parecia ter. Cabe, agora, ao Marvel Studios entender que nem todo filme precisa ser um grande evento.