Indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional e representante da Itália na premiação hollywoodiana, o filme de Matteo Garrone retrata viagem ilegal cheia de perigos e provações em busca de uma vida melhor.
Ficha técnica
Título: Eu, Capitão (Io, Capitano) Direção: Matteo Garrone Roteiro: Matteo Garrone, Massimo Ceccherini, Massimo Gaudioso, Andrea Tagliaferri Elenco principal: Seydou Sarr, Moustapha Fall, Issaka Sawadogo, Hichem Yacoubi, Doodou Sagna Data de lançamento: 29 de fevereiro de 2024 (nos cinemas brasileiros)
A história de ‘Eu, Capitão’
Seydou e Moussa são dois adolescentes senegaleses que partem de Dakar rumo à Europa, em uma odisseia contemporânea, superando uma série de obstáculos. Essa grande aventura nos conduz pelos perigos do deserto e do mar, pelas ambiguidades e pelas contradições do ser humano, na qual os sonhos, esperanças e ambições dos personagens principais se transformam em luta por sobrevivência.
Assista ao trailer do filme:
Crítica de ‘Eu, Capitão’
Dois jovens senegaleses trabalham escondidos durante meses para reunir o dinheiro necessário para deixar o país. O objetivo dos primos Seydou (Seydou Sarr) e Moussa (Moustapha Fall) é ir para a Europa e fazer sucesso com sua música. Desta forma, acreditam que conseguem dar uma vida melhor para as suas famílias.
Antes mesmo de partirem na jornada, os adolescentes são informados de que o caminho é perigoso. No percurso, deverão encontrar corpos daqueles que não conseguiram terminar o trajeto e podem ser surpreendidos por milícias e outros tipos de aproveitadores.
Não se tratavam de ameaças para fazer com que a dupla se demovesse da ideia, eram fatos que realmente poderiam acontecer com eles.
Inicialmente, o trabalhado do diretor Matteo Garrone é de apresentar os dois personagens principais e evidenciar as suas motivações a partir da difícil realidade de pobreza que os rodeia. Com isso, o filme se esforça para fazer com que o espectador simpatize com as figuras de Seydou e Moussa.
Quando partem rumo à Europa, mais precisamente a Itália, começam as provações da odisséia dos dois adolescentes. No caminho, encontram todos os perigos que tinham sido avisados.
Matteo Garrone não poupa o espectador da gráfica violência sofrida pelos dois durante o processo de imigração ilegal que decidem fazer. Mostra sem pudor as facetas mais cruéis que o ser humano é capaz de ter por dinheiro.
Pessoas tirando vantagens daqueles que tentam o percurso, milícias violentas, ricos procurando por mão de obra barata e traficantes. Tudo cruza o caminho de Seydou e Moussa. Com isso, a história faz uma denúncia aos perigos da imigração ilegal e reflete sobre o que um indivíduo é capaz de suportar para realizar seus sonhos e desejos.
Embora desenvolva as motivações pessoais de seus protagonistas, o filme não pensa em investir na raiz do problema. O foco desta narrativa está no sofrimento dos personagens e em impressionar o espectador a partir de uma sequência de violências.
O incômodo causado pelo filme é gráfico, ou seja, está impregnado nos atos físicos e psicológicos de uma travessia desumana no deserto e nas cenas de tortura. Embora seja um filme competente em criar laços entre espectador e protagonista, Eu, Capitão falha em não refletir em questões políticas e sociais que rodeiam e impulsionam as ações dos personagens.
Eu, Capitão apresenta a odisséia vivida por dois adolescentes na busca de um sonho, romantizando problemas causadores de uma crise imigratória que o próprio filme denuncia. Neste reclame, a obra usa da violência como ferramenta de choque para impactar seu espectador.
A falta de contexto político e social não invalida a obra, mas torna a visão apresentada questionável. Desta forma, o filme perde a oportunidade de denunciar cinematograficamente o real problema da história. Além disso, resolve culpabilizar o problema como erro humano e deixa de lado um olhar sistêmico sobre os problemas tratados pela história.
Eu, Capitão cativa nos primeiro minutos. Contudo, da mesma maneira que a trama perde personagens durante a travessia do deserto, o filme passa por um processo semelhante ao se tornar cada vez mais desinteressante conforme expõe sua visão.