
O diretor Jay Roach tem em sua filmografia títulos conhecidos e de qualidade, entre eles a série de filmes Austin Powers, Entrando Numa Fria (2000), Entrando Numa Fria Maior Ainda (2004), Trumbo – Lista Negra (2014) e O Escândalo (2019). A partir desta quinta-feira, 28 de agosto, os cinemas brasileiros recebem o novo trabalho do cineasta estadunidense: a comédia Os Roses: Até Que a Morte Os Separe.
Protagonizado pela dupla inglesa Olivia Colman e Benedict Cumberbatch, o longa-metragem faz uma bem-vinda releitura de A Guerra dos Roses (1989) – mesmo título do livro escrito por Warren Adler que serve de inspiração para os filmes. Na trama, o casal Ivy e Theo vivem uma vida perfeita e estável com a família que criaram. Ele é um arquiteto renomado prestes a entregar o maior trabalho da carreira. Ela é uma talentosa cozinheira que utiliza seus talentos para cuidar dos filhos e da casa.
Logo depois das cenas de família de propaganda de margarina, uma tempestade chega e abala as estruturas da grande obra de Theo. No entanto, a chuva e os ventos fortes também fazem a vida do casal balançar. Antes disso, o filme garante um spoiler ao espectador durante uma sessão de terapia. “Não acho que sejam capazes de resolver seus problemas“, conclui a psicóloga sobre o casal. A partir disso, o público acompanha o começo da história de amor e o que os levou a serem uma causa perdida para a terapeuta.
A palavra releitura, utilizada para descrever a nova versão, mostra-se um acerto da distribuição. O filme de Jay Roach não é um remake da obra de 1989, nem uma adaptação do livro de Adler. Os Roses é uma visão contemporânea dessa história. Embora a briga do casal culmine em uma disputa fora da realidade pela casa dos sonhos do casal, as nuances que levam eles a essa sequência de absurdos faz com que a obra seja mais do que uma simples diversão.

Neste filme, Jay Roach até pode ter a intenção de fazer com que casais conversem sobre os seus problemas, servindo ainda de incentivo para a realização de terapia em conjunto. No entanto, Os Roses é resultado de uma comédia que não se esquiva de exercer o papel social do humor.
Pela lógica, o filme diverte e serve como alívio em diversos momentos. O roteiro encontra força no contraste de humores presentes no longa-metragem. Ou seja, embora a história aconteça nos Estados Unidos, ter protagonistas ingleses faz com que Os Roses tenha um estilo humorístico mais interessante do que o nonsense representado por Andy Samberg e Kate McKinnon – que ainda assim conseguem entreter.
Quanto ao papel social do humor nesta história, é necessário observar a construção que leva Theo e Ivy a quase se aniquilarem. É esse alicerce que planta a semente do ódio crescente entre os protagonistas. Isso acontece porque o filme baseia-se em uma lógica de representação de homens e mulheres que ainda prevalece culturalmente nas sociedades. Ou seja, o homem sustenta a casa enquanto a mulher cuida da casa.
Com isso estabelecido no enredo, é a partir de um acontecimento catástrofe que Os Roses subverte esta lógica. Quando o museu idealizado por Theo desaba na tempestade e ele vira meme nas redes sociais, Ivy assume o protagonismo da família. Inicialmente, a relação é saudável, mas aos poucos o sucesso da esposa alimenta a frustração de um homem que passa a ocupar o lugar que os seus semelhantes tentam há milênios perpetuar como exclusivo das mulheres.

O roteiro, assinado por Tony McNamara (Pobres Criaturas), com estes elementos, estabelece as bases do conflito enquanto alimenta a semente até que ela vire uma árvore enorme. No entanto, além da construção da história, o texto preocupa-se em fazer com que estes personagens tenham a profundidade necessária para conduzir essa trama de amor e ódio.
É nesta busca por humanização que a história mostra os erros e acertos de ambos os membros do casal e cria um retrato digno de uma parte da complexidade das relações contemporâneas. Theo e Ivy são universos distintos que se complementam e colidem nas mesmas proporções. Olivia Colman e Benedict Cumberbatch desempenham com excelência os seus papéis, da paixão efervescente ao mais completo absurdo.
Entre a busca por atualização e homenagens ao filme de 1989, Os Roses: Até Que a Morte Os Separe entrega ao público as possibilidades de que um filme comprometido com o cinema é capaz. Com o propósito primordial de divertir, o longa-metragem não deixa de andar de mãos dadas com o mundo ao gerar elementos de identificação para a audiência. Com bom elenco e atores de destaque dos últimos anos como protagonistas, o enredo se sobressai pelo texto interessante e pela capacidade de ofertar nas entrelinhas nuances complexas da contemporaneidade, cumprindo por fim o seu propósito como releitura moderna de uma história já contada.
Assista ao trailer de Os Roses: Até Que a Morte Os Separe
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