Imagem do filme Invocação do Mal 4: O Último Ritual
Vera Farmiga como Lorraine Warren em cena de Invocação do Mal 4: O Último Ritual. | Imagem: Divulgação/Warner Bros.

Em 2013, o diretor James Wan levou para os cinemas o que pode ser o título mais importante do terror sobrenatural desde O Exorcista (1973). Com Invocação do Mal, o cineasta dava início a uma franquia de sucesso, arrecadando pouco mais de US$ 824,6 milhões em bilheteria (sem considerar produtos licenciados) – segundo o Box Office Mojo. Além do pontapé inicial, o que ficou conhecido como “Invocaverso” teve desdobramentos nas sub franquias Annabelle, A Freira e o solo A Maldição da Chorona.

Apesar do sucesso, Wan dirigiu somente os dois primeiros filmes de Invocação do Mal, sendo o segundo lançado em 2016. O restante do “Invocaverso” ficou nas mãos de outros cineastas. Um deles é o estadunidense Michael Chaves, que entrou neste universo assinando a direção de A Maldição da Chorona (2019). Depois disso, assumiu Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio e retornou ao cargo no ato final da série cinematográfica.

A partir disso, o “Invocaverso” perdeu em personalidade. Mesmo que James Wan seguisse atrás das câmeras atuando como produtor, a diferença no resultado é notável. Em A Ordem do Demônio. que foi pego pela maldição do terceiro filme, a história que acompanhou os desdobramentos de uma seita satânica não sabia qual caminho percorrer. A primeira opção era a de arriscar e assumir uma nova personalidade (que ia do visual até a narrativa). A segunda era tentar fazer o que o diretor dos dois primeiros filmes fazia. No fim, o longa-metragem ficou em um limbo, sem saber para onde ir.

Com isso, o quarto filme tinha dois desafios: 1) superar a má impressão deixada pelo antecessor; 2) encerrar a história do “Invocaverso”. Para fazer isso, Michael Chaves e os roteiristas (Ian Goldberg, Richard Naing e David Leslie Johnson-McGoldrick) recorreram a estilos simples de desenvolvimento narrativo para contar uma boa história. Sendo assim, a equipe criativa deixou claro neste filme que Invocação do Mal não poderia reinventar a roda mais uma vez.

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Vera Farmiga e Mia Tomlinson como Lorraine e Judy Warren em cena do filme Invocação do Mal 4: O Último Ritual. | Imagem: Divulgação/Warner Bros.

Consciente de que deveria ser um filme de terror comum, Invocação do Mal 4: O Último Ritual inicia com a carreira de Ed e Lorraine Warren em 1964, quando o casal abandonou um caso grave por causa do nascimento de Judy (Mia Tomlinson). Ao contrário dos outros longas-metragens, o foco na família Warren é a peça central deste filme. Nos outros títulos, mesmo que fossem os protagonistas, os filmes desenvolviam as famílias afetadas pelos espíritos para estabelecer um vínculo emocional entre os personagens e a audiência.

Passada a introdução do prólogo, Invocação do Mal 4 situa-se em 1986, quando Ed (Patrick Wilson) e Lorraine (Vera Farmiga) vivem apenas como palestrantes de salas quase vazias. Os dias de investigadores paranormais ficaram para trás, uma consequência dos problemas cardíacos enfrentados por Ed. Enquanto eles tentam viver uma vida aparentemente normal, uma família da Pensilvânia começa a ser atormentada por uma entidade maligna que estava adormecida.

A partir disso, Michael Chave se preocupa em fazer de Invocação do Mal 4 um filme de transições. Ora se preocupa com o terror, ora se dedica ao melodrama ao qual recorre para tornar a história afetiva. Esse pingue-pongue de gêneros é a fórmula encontrada pelo diretor para fazer com que esta história fosse um grande ato final. É, de fato, espetaculoso o suficiente para concluir a franquia.

Comparando a si como diretor, é notável a evolução de Michael Chave para o capítulo final de Invocação do Mal. O cineasta parece ter passado por um processo de assimilação ao compreender que este filme deveria estar alinhado às suas capacidades e potencialidades. Se o “Invoverso”, lá em 2013, começou a partir de um filme caracterizado por aquilo que sugeria e não mostrava, o ato final da história de Ed e Lorraine entende que fazer um terror gráfico é sua melhor saída.

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Vera Farmiga e Patrick Wilson com Lorraine e Ed Warren em cena do filme Invocação do Mal 4: O Último Ritual. | Imagem: Divulgação/Warner Bros.

Neste sentido, recorrer ao visual torna tudo mais arriscado. Quando se trabalha com a imagem no terror é preciso equilíbrio e bom senso no uso deste recurso. Invocação do Mal 4: O Último Ritual não se preocupa com a construção de atmosfera para causar medo. O filme deixa muito claro quando quer ou não assustar o espectador. Desta forma, recorre à fisicalidade e aos jumpscare para ser uma obra competente do gênero na maior parte do tempo.

Embora peque por exageros gráficos e melodramáticos, O Último Ritual dá aos espectadores e fãs da franquia um final redondo e cheio de homenagens à história construída pelo “Invocaverso” nos últimos 12 anos. Neste sentido, há também um tom de passagem de bastão, mas que sabiamente não indica nenhum tipo de continuidade em novos possíveis derivados.

Além do terror, Invocação do Mal sempre buscou falar nas entrelinhas sobre amor e família. As entidades malignas que assolaram diversos grupos de pessoas sempre procuraram acabar com a felicidade coletiva, disseminar o caos e o medo. No meio disso tudo, Ed e Lorraine sempre surgiram como salvadores, mas, mais do que isso, eram pessoas que tentavam reestabelecer o bem-estar de quem estava na mira dos demônios.

Com isso, o apelo melodramático do filme se justifica para centralizar Ed, Lorraine e Judy na trama. Diferente de qualquer outro exemplar de Invocação do Mal, o capítulo final é muito mais sobre os Warrens do que o famoso caso da família Smurs.

Longe de disputar o lugar de melhor filme de terror do ano, Invocação do Mal 4: O Último Ritual tem como principal mérito a compreensão de que chegou a hora de parar. Como franquia, o eixo principal do “Invocaverso” começou forte e marcante, mas foi diluindo em si filme após filme. Melhor do que se desgastar como outras séries cinematográficas, as adaptações dos casos investigados por Ed e Lorraine Warren consegue concluir sua história da melhor maneira possível para este momento.

Assista ao trailer de Invocação do Mal 4: O Último Ritual

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