Imagens: Divulgação/ PlayArte Pictures

O diretor italiano Giuseppe Tornatore volta aos cinemas com o melancólico romance Lembranças de Um Amor Eterno. É um longa interessante, em um formato fechado e exclusivo do cinema italiano, com uma linguagem bastante metafórica e que brinca com os conceitos de astronomia e destino.

Tornatore é um ótimo diretor, sabe se propor a fazer algo grande, como fez em Baaria – A Porta do Vento. Admiro sua sensatez, pois hoje em dia você precisa conhecer o material que está a sua disposição, trabalhar isso da melhor forma possível e não tentar, de modo algum, fazer algo que esteja fora do seu alcance. Dentro de suas limitações, Lembranças de Um Amor Eterno é aquilo que se propõe a ser: um romance. Agora se é triste, feliz ou melancólico, isso depende dos conceitos, depende da história que quer ser passada e posso afirmar que ele não assume (na sua identidade) um único sentimento. O longa protagonizado por Jeremy Irons tem os seus momentos, de felicidade, tristeza, depressão, entre outros, e sabe aproveitá-los da melhor forma possível.

O longa mostra a relação entre um professor casado e sua aluna, a amante, que vive dividida entre o amor que sente por Ed (Jeremy Irons), os estudos e o trabalho de dublê de cenas de ação. A personalidade de ambos é muito marcante, mas é algo que já foi visto; a aluna jovem, bonita, inteligente e inocente se apaixona pelo professor mais velho, galanteador, romântico e que arranca suspiros da jovem em vários momentos.

A história é simples, mas tem uma ambiguidade interessante e que pode muito bem ser vista com maus olhos. Depois de determinados acontecimentos, a vida de Amy torna-se dependente das migalhas de pão deixadas por seu amado, seria isso o amor e a dificuldade de aceitar a perda ou uma forma de deixar a figura da mulher refém e dependente do homem e de seus cuidados? Fragilidades a parte, é duro de aceitar uma perda, mas ficar refém disso é que é duvidoso. Tal fato traz a seguinte reflexão: onde começa e termina o sentimento? E a partir de que ponto a dependência da paixão/amor faz de nós, homens e mulheres, escravos castigados de algo que não será mais correspondido? (Reflitam).

Mesmo que seja uma história de triste, Lembranças de Um Amor Eterno faz aquilo que se compromete, -reforço que isso se deve a sensatez do diretor, que ao lado de Ennio Morricone, consegue comandar muito bem o soneto. Alias, aí vai uma curiosidade, essa é a décima segunda vez que Giuseppe Tornatore e Ennio Morricone trabalham juntos. A composição sonora de Morricone é belíssima, mas até para a história, que tem nuances tristes e alegres, acaba sendo melancólica de mais, o que é, de fato, uma característica marcante em filmes italianos, mas que neste caso pesou sob os ombros da produção.

Olga Kurylenko foi um surpresa, a atriz desempenhou bem o papel de Amy e mostrou o peso de tudo aquilo que a moça estava passando. Os sentimentos de perda, negação, dúvida, incerteza (que são quase sinônimos, mas no contexto do longa adquirem significados particularmente diferentes) se combinam a todas as camadas dramáticas da atriz ucraniana. Jeremy Irons dispensa comentários e apresentações, mesmo sendo um ótimo ator, Irons sabe dosar muito bem o enigma que compõe o seu personagem, Ed. Um romântico nato, que tem todos os seus movimentos calculados na hora certa, para surpreender, agradar, apaixonar e prender a quem ele mesmo quisesse.

Imagens: Divulgação/ PlayArte Pictures
Imagens: Divulgação/ PlayArte Pictures

O drama é rico, bem construído, continuo afirmando que em alguns momentos (principalmente em conjunto com a trilha sonora de Morricone) acaba tendo uma carga emocional desnecessária ficando, consequentemente, um pouco pesado em alguns momentos. Mesmo assim a forma como apresentam a relação do casal é bem interessante, pois não é apenas uma paixão. Amy sente uma enorme admiração pelo seu professor, mesmo sendo uma mera amante, o encanto da jovem é tanto que ela admite que nunca quis separar o amado da família e se contenta em viver das milhas de tempo que ele tinha para lhe dar atenção. Aí pergunto para você, ou a mim mesmo, onde fica a figura da mulher em meio a isso? Amy não é submissa, ela é submetida por vontade própria, se é que podemos dizer que isso é realmente vontade própria.

O que quero dizer é que mesmo sendo feliz, à sua maneira é claro, é realmente certo, para sua própria felicidade, Amy se sujeitar a viver assim, ao invés de lutar por uma vida normal e que possa ter a dita liberdade? Como disse, a história pode parecer bonita, pode ser triste, melancólica em excesso, mas também é perigosamente ambígua, o que complica um pouco pelo seu tom reflexivo. Isso que relato é completamente interpretativo, depende muito da visão de quem assiste.

Lembranças de Um Amor Eterno está longe de ser um dos grandes trabalhos de Tornatore, mas relembra que o diretor italiano sabe contar uma história sólida, sabe assumir o que está ao seu alcance, sem exageros, sem tentar ser mais do que realmente pode. O longa também tem suas lições, mas elas parecem um pouco exclusivas para quem passa por uma situação como a de Amy. Lembranças de Um Amor Eterno traz ao cinema a identidade dos filmes italianos, contestados por uns e adorados por outros, com uma fotografia sutil e enigmática.

Avaliação

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