Imagem: IMDb / Crédio: © 1931 - Warner Bros.
Imagem: IMDb / Crédio: © 1931 – Warner Bros.

A completa carreira de Charles Chaplin consolidou em suas obras uma visão crítica sobre o contexto social, da mesma maneira que perpetuou sua capacidade única em representar sentimentos em seus mais puros e singelos aspectos. Por isso, a Sessão P&B desta semana dará destaque a mais uma criação deste gênio cinematográfico: Luzes da Cidade (City Lights, 1931).

Desta vez, o famoso protagonista maltrapilho, Carlitos (Charles Chaplin), tem seu coração roubado por uma bela jovem florista cega (Virginia Cherrill), a qual ingenuamente o confunde com um homem rico. Ele, por sua vez, tenta sustentar esta imagem na intenção de conquistá-la.

Em Luzes da Cidade, Chaplin conseguiu expressar de forma genuína o poder de um amor verdadeiro, tal qual representou em O Garoto (The Kid, 1921), mas desta vez através da relação entre um homem e uma mulher. Longe de grandes euforias, Carlitos demonstra seus sentimentos através de gestos graciosos, além de trabalhar com afinco na concretização de um nobre objetivo: impedir que sua amada seja despejada da casa em que vive e pagar a cirurgia que fará com que ela contemple o mundo tal como todos, mesmo que isso resulte na desconstrução da imagem platônica que a jovem mantém dele. Para isso, Carlitos se sujeita a empregos nada atraentes, além de literalmente lutar para conseguir um dinheiro fácil dentro de um ringue de boxe, atitudes que não rendem grandes resultados para o personagem, mas garantem a diversão do telespectador.

Em paralelo a isso, o vagabundo desenvolve, como que por ironia ou grande sorte, uma confusa amizade com um homem rico e ébrio (Harry Myers) após impedir o mesmo de suicidar-se. No entanto, o afortunado homem só o reconhece quando está embriagado, situação que resulta em cômicos mal entendidos no decorrer da história. Esta aproximação é ainda, a peça chave para que o protagonista atinja seu objetivo inicial.

Imagem: IMDb / Crédio: © 1931 – Warner Bros.

O grande mérito desta produção está ligado ao seu enredo simples que possui em si um desenvolvimento orgânico e verdadeiro por parte dos personagens, nos levando à contemplação de uma paixão virtuosa e ingênua. Não obstante, Chaplin manteve nela uma forte característica de sua carreira: a resistência em abrir mão do cinema mudo, mesmo com o mercado em transição. Apesar disso, é visível a busca por um ponto de equilíbrio, já que nesta obra há o uso de alguns efeitos sonoros mínimos acrescentados à trilha composta pelo próprio cineasta. Tais efeitos são representados, por exemplo, pelo gongo presente na luta de boxe e o som do apito engolido por Carlitos em uma das sequências da trama, além do discurso inicial incompreensível desenvolvido por meio de um som peculiar, na tentativa de imitar o que seria a voz do orador. Isso é o máximo que Chaplin permitiu em sua criação, considerando que seu ilustre personagem é, acima de tudo, um ícone pantomímico.

Apesar de Chaplin encontrar problemas durante a produção, a ponto de demitir e recontratar Virginia Cherrill, quase que substituindo-a por Georgia Hale – atriz que atuou em A Corrida do Ouro (The Gold Rush, 1925)-, Luzes da Cidade se tornou uma obra de grande significado na carreira do artista. Carregada de simplicidade, sem deixar de promover com perfeição sentimentos tão distintos, esta obra tem um efeito característico da maioria, se não de todos os projetos assinados por Charles Chaplin: emocionar, bem como fazer rir e encantar, qualquer um em qualquer época que se ponha a assistir.