Imagem: IMDb / Céditos Kurt Iswarienko / © FX Networks, 2017
Imagem: IMDb / Céditos Kurt Iswarienko / © FX Networks, 2017

Antes de tudo, Feud é uma série de personagens e depende deles e das respectivas atuações para que o enredo funcione. Logo, também, ao longo dos primeiros episódios a série deixa claro que sua estrutura narrativa não tem o mesmo glamour de sua história. Porém, apesar de apresentar pouco objetivo durante a temporada, Feud: Bette and Joan mostra a dura realidade de quem vive e é diariamente corrompido por Hollywood, trabalhando a consequência de estar neste meio de forma eficiente e até mesmo cruel.

O criador do programa, Ryan Murphy, está vivendo um de seus melhores momentos criativos da carreira. Se American Horror Story foi sua consolidação – mesmo que feita em cima de altos e baixos -, já a recém cancelada Scream Queens é o seu ápice criativo que falhou na execução e American Crime Story chegou a sua excelência, Feud: Bette and Joan, porém, soa muito mais como a junção de todos esses momentos somados a realização de um sonho sobre falar de Hollywood, alimentado pelo produtor, diretor e roteirista da série. Prova disso são alguns personagens que Murphy desenvolveu ao longo dos anos. Os melhores exemplos podem ser O. J. Simpson (Cuba Gooding Jr.) e como a fama o corrompeu, assim como Elsa Mars (Jessica Lange) de American Horror Story: Freak Show, uma artista que sentia o peso da idade e amargurava a dor da falta de valor que pessoas da área ganhavam junto ao peso dos anos que passavam.

Ao longo dos oitos episódios que compõem a primeira temporada, Feud cria diversos momentos onde a série não sabe para onde ir. No primeiro, vemos como a mídia e as mentiras da imprensa podem fomentar uma rivalidade mesquinha, e esta acaba ganhando motivações fortes para a sua disputa, plot este que foi abordado de forma apenas contextual e sem grande aprofundamento. É louvável, também, ver como funciona os bastidores de Hollywood, não na relação das personagens, mas quem tem adoração pelo cinema como arte sempre gosta de conferir os bastidores de uma produção, mesmo que na série isso tenha ganhado pouco espaço – afinal, a relação dos personagens é o que move a história.

Imagem: IMDb / Céditos Kurt Iswarienko / © FX Networks, 2017

Se há um acerto ao desenvolver o drama pessoal das duas protagonistas, Bette (Susan Sarandon) e Joan (Jessica Lange), o mesmo não se repete tão bem com os coadjuvantes. Alguns representavam, às vezes, um recurso narrativo apenas para preencher as cenas, e em outros momentos ajudavam na evolução da história – no caso de Jack Warner (Stanley Tucci) e Hedda Hopper (Judy Davis). Aqui também entra a pequena participação de Sarah Paulson, como Geraldine Page, que, por exemplo, brilha em uma única cena, além de representar o início de um momento importante dentro da triste jornada de Joan Crawford. Ao contrário dela, Robert Aldrich (Alfred Molina), um personagem recorrente na vida de ambas as protagonistas, mas que em suma tem uma jornada que alterna entre momentos de importância para o desenvolvimento narrativo e em outros que é só uma evolução sem sentido e de pouca importância.

O caso de “Bob” também se reflete quando o programa tinha a oportunidade de traçar um caminho interessante com Pauline (Alison Wright), onde a série poderia dar espaço à dura jornada de uma mulher que tentava ser diretora no meio de uma sociedade enrustida e totalmente preconceituosa que julgava o diferente da maneira errada.

Enquanto estruturalmente Feud falha, o subtexto de suas protagonistas ficava mais rico à cada episódio. De um lado a vaidade de uma alma corrompida pela indústria (Joan), e de outro alguém que pouco se importava com isso e precisou de força e muito talento para chegar onde estava (Bette). A rivalidade das duas atrizes, hoje, grandes ícones do cinema, era conhecida por boatos famosos de bastidores, como quando Bette agride, de fato, Joan na gravação de uma cena, ou pela birra de Joan com a máquina de Pepsi e Bette com uma da Coca-Cola. Momentos como esse fomentavam a curiosidade, mas por decisões claramente criativas, a reprodução destes e outros acontecimentos foram muito menos icônicos do que a história que os precede, mas ao bem da verdade todos esses momentos podem ser descritos com o tradicional “atá” e vida que segue.

Assim, Feud se restringe ao ser menos do que realmente poderia, e mesmo estando entre as principais estreias do ano, a nova investida de Ryan Murphy mostra que mesmo com uma grande história nas mãos o programa não soube exatamente o que fazer com ela. A falta de rumo da série em retratar uma história fechada peca ao tentar acrescentar dramas que no resultado final soam mais como pontas soltas do que recursos narrativos importantes.

Imagem: IMDb / Céditos: © FX Networks, 2017

Há assuntos inacabados que poderiam ter ganhado um retrato menos simplório na primeira temporada. Mesmo que estes sirvam apenas como uma contextualização de diversas situações, era visível o potencial que estes plots tinham dentro da própria história, e esta caminhou para os rumos errados com coadjuvantes, às vezes, desnecessários.

Sendo assim, se há virtudes em Feud: Bette and Joan elas estão principalmente nas atuações de Jessica Lange e Susan Sarandon, que assim se colocam como postulantes nas principais premiações da televisão estadunidense, afinal não são todos os programas que apresentam tantas variações dramáticas fazendo com que o público desenvolva relações de amor e ódio com ambas às personagens em questão de vinte minutos – e também porque sem as duas, Feud seria apenas uma carcaça sem alma. Outro mérito, característico de Murphy, é o design de produção e o trabalho de maquiagem impecável durante toda a primeira temporada, principalmente quando rejuvenesce e envelhece as suas personagens.

A primeira temporada de Feud, então, deixa a sua marca levemente positiva como um drama consistente, mesmo deslizando com seu roteiro sem objetivo, mas, com certeza, marcando a história da televisão com as cenas finais do season finale, onde há o encontro emocionante, lindo e triste entre Bette, Hedda e Jack com Joan em seus últimos momentos de devaneio. Feud é, em suma, um drama que traz o lado nada glamouroso de Hollywood e exalta a tristeza que o mercado cinematográfico mais importante da sétima arte pode causar na vida de suas estrelas.

Avaliação

[yasr_overall_rating size=”medium”] (Bom)