A sétima temporada de Game of Thrones começou no dia 16 de julho, pouco mais de um mês atrás, apresentando em Dragonstone tudo o que precisava para dar o ponta pé inicial do ano sete do programa. Ontem, 27 de agosto, a HBO exibiu a season finale da temporada, The Dragon and the Wolf, e desta vez mostrou tudo o que precisava para encerrar a história que precede A Grande Guerra entre a vida e a morte. Este foi o episódio mais “Game of Thrones” da temporada, desde o momento em que apresentou cenas emblemáticas dentro da série, até a parte mais fantasiosa, com um roteiro mais sólido e uma edição que funcionaram muito bem para a divisão dos núcleos que o capítulo final da temporada precisava apresentar.

A reunião, entre o principal núcleo da série, foi do jeito que precisa ser, com a dose certa de objetivo e hostilidade de ambos os lados – com a reação impagável de Cersei ao ver o zumbi. Talvez, no entanto, não precisasse de tantas idas e vindas, mas quando a cena de Cersei e Tyrion rende boas atuações de Lena Headey e Peter Dinklage, não há do que reclamar. O episódio ainda trouxe de volta o ritmo normal de Game of Thrones, abrindo mão da correria que quase se tornou habitual nesta temporada.

Além disso, é impossível não destacar os reencontros que aconteceram durante o episódio, que renderam alguns momentos mais leves e outros de tensão. Cão de Caça e Brienne (Gwendoline Christie) geraram algumas boas risadas a quem estava assistindo, mas o encontro entre os irmãos Gregor e Sandor Clegane (Rory McCann) reascendeu a chama de esperança em relação ao CleganeBowl, que pode acontecer em um desfecho final na próxima temporada. Além do encontro dos irmãos, chama muito a atenção a fala de Sandor Clegene, alegando que Gregor sabe como tudo termina. A fala pode se referir ao embate dos irmãos, ou, quem sabe, ao fato do Montanha ter tido uma visão no fogo quando era pequeno, e por não saber o que era acabou colocando o rosto de Sandor no fogo e colocando a culpa no simples brinquedo que o irmão pegara dele – sem dúvida algo interessante pode sair desse diálogo.

The Dragon and the Wolf trouxe em seus melhores momentos a essência dos diálogos memoráveis que Game of Thrones já nos proporcionou. É claro que quando a série ainda bebia na fonte dos livros ao adaptar a sua história, os diálogos já estavam prontos, todos provenientes da mente brilhante de George R. R. Martin. Apesar de não termos mais isso, é preciso elogiar a melhora do quesito, principalmente dos fiascos de Beyond the Wall. Mesmo assim, Game of Thrones continua parecendo mais diluída do que deveria, afinal a proporção de público que a série atinge em 2017, é muito maior do que no ano passado, por exemplo, e o programa, ainda como um produto de entretenimento, sofre modificações para justificar ainda mais o alcance desse público. E a consequência é a perda da complexidade narrativa que estava na identidade textual da série.

Com a finale fica claro que boa parte do grande investimento que a HBO fez nessa temporada foi, realmente, em prol dos artifícios visuais, não apenas o CGI foi excelente, mas a fotografia como um todo chama ainda mais a atenção – algo que nas ultimas duas temporadas tinha alguns momentos de destaque. Sem dúvida alguma, desde que os showrunners confirmaram que a sétima temporada seria mais corrida que o habitual, algumas consequências negativas afetariam o programa. E durante toda a temporada a série sofreu com o ritmo que causou diversos problemas, como as sempre utilizadas elipses de tempo, que não seguiam uma linha temporal de acontecimentos simultâneos – algo que até então nunca tinha incomodado -, e a season finale da temporada voltou a utilizar o recurso da forma correta sem que esses problemas se repetissem no episódio final.

Apesar de ser melhor que a maioria dos episódios da sétima temporada, The Dragon and the Wolf, assim como o restante, tem a sua qualidade questionável em alguns momentos. O episódio trouxe Theon (Alfie Allen) e Jaime (Nikolaj Coster-Waldau) com dois arcos bastante similares, ambos basicamente fundados pela redenção dos personagens. Jaime abriiu mão de ser o cão mandado de Cersei; Theon deixou a personalidade de Fedor de lado. As duas cenas, onde acontece a redenção dos personagem, se justifica pela necessidade que a série adquiriu de transformar seus personagens em heróis ou vilões, pois Jaime vai a guerra e Theon vai se redimir perante a irmã indo resgatá-la das mãos de Euron Greyjoy (Pilou Asbæk).

O engraçado deste episódio é que apesar dos principais acontecimentos serem previsíveis, junto a eles houveram algumas surpresas que tiraram o poder de antecipação do público e engaram (positivamente) o telespectador. Mas essa quebra de expectativas criadas dentro do próprio episódio, no entanto, nem sempre funcionaram. Cersei tramar com Euron foi cabível e entendível, gerando uma reação inesperada do público, que pelo histórico recente já sabia que era um erro confiar em Euron Greyjoy, por tanto, ver o personagem fugindo da luta não seria surpresa, mas o que pegou a todos desprevenidos é que o “medo” do personagem foi principalmente uma desculpa para que Cersei saísse na frente em sua disputa territorial. Por outro lado, se a morte de Mindinho (que precisava acontecer) teve seu momento emblemático, a cena que a antecede, quando Sansa (Sophie Turner) finge ser manipulada, não funciona tão bem quanto poderia.

A questão é um problema recorrente do núcleo nortenho desta temporada após a partida de Jon Snow (Kit Harington), em que tudo soa fajuto, forçado ou canastrão, e este último descreve com perfeição o fingimento de Sansa – ou a atuação de Sophie Turner. Porém o momento de falsidade da Lady de Winterfell, mostrou que a personagem realmente aprendeu alguma coisa em Porto Real, mas é inegável que o resultado com a morte de Mindinho (Aidan Gillen) foi, praticamente, glorioso – um personagem como ele, que já foi um dos melhores da série, teve uma morte “digna” a tudo que já havia feito na história. Ainda no norte, e mais para o fim do episódio, Bran (Isaac Hempstead-Wright) voltou a tentar ser o Corvo de Três Olhos, mas como citado anteriormente, o tal corvo parece mais canastrão do que realmente um sábio que tudo vê, e esse é o grande problema do personagem, que deveria ser um dos mais importantes da série, mas só aparece quando é conveniente.

No fim, o grande momento, e talvez o mais previsível de todos, deu um show a parte quanto ao CGI, seja quando parte da Muralha foi derrubada, ou quando apenas mostrou as resoluções visuais do Dragão de Gelo do Rei da Noite. Mais uma vez, dentro do mesmo episódio, Game of Thrones fez o que precisava fazer, onde, talvez, destruir toda a Muralha fosse um acontecimento grandiloquente demais e sem necessidade. Ou seja, foi como tinha que ser.

The Dragon and the Wolf termina bem a temporada que deveria ser a melhor da série, mas que na realidade foi boa e de qualidade narrativa bastante questionável. Apesar disso não há como negar a importância visual dos principais acontecimentos da temporada, afinal o investimento que foi feito para a concepção dos dragões, principalmente Drogon, deixou um resulto impecável e que muitas vezes nem o cinema, que movimenta muito mais dinheiro, é capaz de fazer.

Game of Thrones não deixa nenhuma incógnita sobre o futuro da sua trama, e mesmo não deixando esperanças de vermos algo narrativamente excelente em sua última temporada, a expectativa é que pelo menos as batalhas façam jus a essa qualidade ímpar da série que muito já fez, visualmente, ao longo das suas temporadas – mas é claro que um livro de capa bonita não é o bastante para quem se importa com o conteúdo que o mesmo carrega.

Avaliação

[yasr_overall_rating size=”medium”] (Ótimo)