Cloverfield é um caso a ser estudado. Antes de ser lançado o primeiro filme, em 2008, o primeiro trailer foi exibido nas sessões de Transformers (2007), e a prévia não mostrava o nome do filme – as imagens traziam Nova Iorque sendo ataca e a cabeça Estátua da Liberdade sendo jogada pela cidade. O segundo, Rua Cloverfield, 10, de 2016, foi produzido em segredo, e quando se percebeu, estava em cartaz nos cinemas. Detalhe, ambos os filmes com muito qualidade e entregando um resultado ótimo dentro das suas propostas.
Outra curiosidade sobre os longas, é que a franquia traz diretores emergentes para o cargo em questão. No primeiro filme tínhamos Matt Reeves, um dos diretores mais importantes da atualidade, que no ano passado encerrou magistralmente a trilogia Planeta dos Macacos e está para dirigir The Batman. No segundo filme tivemos Dan Tranchtenberg, que dirigiu o ótimo Playtest na terceira temporada de Black Mirror – e ele vai dirigir o filme Space Race, que pouco se sabe até agora, pois o roteiro e detalhes do filme são mantidos em segredo pela Universal.
Dito isso, o terceiro filme da franquia vinha sendo adiado há algum tempo, colocando em cheque a sua qualidade. Contudo, e do nada, a Paramount Pictures resolveu dividir a distribuição do filme com a Netflix, que transmitiria o longa para o resto do mundo, com exceção de EUA, Canadá e China, que terão o filme nos cinemas. Mas, ao ver o terceiro longa, entende-se que realmente não valeria a pena levá-lo aos cinemas do mundo todo.
The Cloverfield Paradox é bem intencionado, e isso é inegável. Tudo começa com uma Terra em decadência, recursos se esgotando e a vida humana ameaçada – parecia até o Interestellar de Christopher Nolan, ao impor que o planeta precisava ser salvo de qualquer jeito. Assim, e com uma trilha sonora interessante, o Paradox iniciava sua história com um senso de urgência certeiro, que tornou a trama ágil e interessante aos olhos do espectador. O mesmo seguiu-se quando o novo Cloverfield embarcou no âmbito espacial da ficção científica. O longa explorou conceitos, como o do Acelerador de Partículas e a teoria do Paradoxo de forma simples e direta.
A intenção do filme, então, mudou completamente quando o dito Paradoxo acontece após os tripulantes da estação espacial Cloverfield criarem a anomalia no espaço-tempo. Com isso, a proposta de explicar conceitos do primeiro filme se perde quando o roteiro prioriza uma história de interesse humano, em que duas dimensões diferentes, com problemas parecidos, colidem. No entanto, se a questão era explicar a origem do Monstro do primeiro longa, esta é bastante simples.
Quando criado o Paradoxo não foram apenas duas dimensões que se colidiram, todas as dimensões tinham, de fato, uma brecha aberta, e no momento em que o Paradoxo fora criado, o Monstro (ou os Monstros) facilmente podem ter passado da sua dimensão para aquela em que os personagens habitavam originalmente – basta apenas aplicar o conceito de multiverso para tornar a explicação mais leve.
Com esse direcionamento, The Cloverfield Paradox tira referências claras de Alien – O Oitavo Passageiro (1979), assim como o tenebroso Vida fizera no ano passado. Porém, o resultado final de Cloverfield Paradox não foi tão desastroso. Com as novas cartas na mesa, o filme usa o Paradoxo como o seu Xenomorfo, e faz das anomalias o seu grande perigo. Aí, então, se instala o objetivo de apenas sobreviver, restaurar o Acelerador de Partículas e construir um novo Paradoxo que coloque tudo no lugar. Mas tudo isso se perde logo depois que a primeira hora do filme se encerra.
A trama abre espaço para subtramas pessoais, que são interessantes e dão humanidade para os personagens, mas o filme apenas joga essas informações para o espectador. Essas subtramas são frágeis e pouco relevantes, pois suas resoluções são fáceis e por vezes quase banais. Hamilton (Gugu Mbatha-Raw), que aparentemente é a protagonista, tem o arco dramático mais desenvolvido longa, e a solução que a personagem encontra torna boa parte da sua jornada descartável.
The Cloverfield Paradox fez muito barulho em pouco tempo, o que é característico da franquia. Contudo, ele não corresponde a qualidade apresentada até aqui como obra cinematográfica dentro da trilogia (que ainda em 2018 vai se ternar quadrilogia), falhando com um roteiro que evidentemente escolheu caminhos errados – a impressão que fica, é a de que o longa não quis se complicar ou tornar-se complexo, pois a resolução para o principal problema do filme aconteceu quando Tam (Ziyi Zhang) teve um insight e e encontrou uma solução-. A estética funciona, junto com a fotografia, e juntas combinam com o senso de gravidade do que está sendo contado.
Com a boa direção de Julius Onah, Cloverfield Paradox se perde dentro das suas próprias intenções e prioridades, mas consegue ao menos entreter o seu espectador – mesmo que após a primeira hora o filme seja mais difícil de assistir.