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Imagem: Banco de Séries

A nova temporada de Black Mirror chegou à Netflix na última sexta-feira (22) e satisfez as expectativas do fãs. Vale lembrar que antes de ser produzida pela Netflix, Black Mirror era transmitida pelo Channel 4, com isso alguns questionamentos começaram a ser levantados, como: “Será que a série continuará com a sua qualidade? O tom da série irá mudar? As críticas serão mostradas de forma mais leve?” Com certeza ocorreram mudanças no formato, pois ela era originalmente de um canal britânico, mas sua vinda para Netflix só deixou a tração mais empolgante, com mais episódios e críticas ainda mais atuais.

Os aspectos técnicos também mudaram drasticamente. A fotografia da série está incrível nesta nova temporada, com várias escalas de cores diferentes, e todas mudam de acordo com o episódio. Um belo exemplo sobre a fotografia é no episódio “San Junipero“, que levou os telespectadores em uma viajem temporal e conseguiu retratar muito bem as características de cada década ali apresentada. Além da variação do tom da paleta de cores, também tivemos mais ângulos e a exploração de novos pontos de vista. O episódio “Playtest” apresenta umaa história focada nos games, com diferentes perspectivas usadas em jogos – o que faz com que o telespectador se sinta imerso naquela narrativa e ainda mais familiarizado com o ambiente, proporcionando um melhor entendimento da crítica por trás do episódio e aumentando o impacto do mesmo.

Houve também uma melhora perceptível na trilha sonora da temporada, em relação às temporadas anteriores. O episódio “Shut Up and Dance” é o exemplo ideal de uma boa trilha sonora para um episódio – com um ritmo frenético e ininterrupto. “Nosedive” surpreendeu em termos de criatividade. A trilha do episódio, nos minutos finais, mesclando música de ação e sons de notificações foi uma ideia genial.

Imagem: Arquivo Pessoal/ Rubens Oliveira
Imagem: Arquivo Pessoal/ Rubens Oliveira

Com o aumento do número de episódios, desta vez podemos desfrutar de mais histórias e críticas a serem exploradas, o que permitiu focar em assuntos bem mais recentes. “Nosedive” explorou a sociedade, onde tudo e todos são avaliados e possui uma nota. Isso distingue seu grau de importância para a sociedade, mostrando a segregação social. O episódio conseguiu passar muito bem a ideia de como as pessoas mudam sua personalidade para agradar aos outros, se esquecendo de quem elas realmente são. Um mundo de hipocrisia. “Playtest” centralizou os perigos dos jogos de realidade virtual ( ou VR) e a tecnologia em um contexto geral. Será que realmente conseguimos distinguir o que é real e o que é virtual? O episódio conseguiu com maestria imergir o telespectador nessa realidade tão próxima da nossa e mostrar como em um ambiente que não pode te causar mal algum, os sentimentos e a mente podem se tornar reféns de uma realidade falsa. A trama ainda explorou os perigos dos testes em humanos e como simples falhas podem causar grandes prejuízos. O episódio só se perde um pouco no final, quando não consegue explicar com clareza, para o telespectador mais comum, o que aconteceu realmente durante os 50 minutos da trama.

Shut Up and Dance” foi o episódio, que assim como “15 Million Merits” e “White Bear” nas temporadas anteriores, fez a mente dos telespectadores explodir. O roteiro foi impecável, a trama envolvente, o final surpreendente e os personagens cativantes ao ponto de sentirmos decepção. O episódio é basicamente tudo o que a série representa, mostrando pessoas em situações anormais, envolvendo tecnologia e proporcionando críticas com impacto profundo, que fazem você refletir sobre a vida e repensar os seus valores morais. Todos já assistiram a este episódio disseram: “você precisa de uma pausa após esse episódio.“. E é a pura verdade.

Imagem: Banco de Séries
Imagem: Banco de Séries

“San Junipero” foi o episódio mais “leve” da temporada. Com uma fotografia de cores agitadas, que caiu bem para a trama oitentista, o episódio proporciona a reflexão sobre o pós-morte e a capacidade da humanidade armazenar tudo em servidores na nuvem. A trilha sonora também é marcante e faz com você se senta realmente na década proposta. As personagens são tão cativantes que o episódio teve o primeiro final feliz da série. Para alguns, o final não foi nada feliz, mas reparando na série como um todo, esse com certeza foi um final diferente de todos que já foram exibidos. “Men Against Fire” com absoluta certeza foi o episódio que trouxe a crítica mais atual até agora em Black Mirror. A segregação social e o genocídio de raças em prol de objetivos pessoais dos governos. Trama mais atual do que esta é impossível. Para muitos foi o episódio mais chato da temporada, e isso pode ser um retrato do pensamento humano em querer negar o que realmente está acontecendo bem diante dos seus olhos, assim como o que acontece com o personagem Stripe.

O último episódio da temporada, “Hated in the Nation“, é praticamente um filme. Não só pela duração, mas também por sua trama redondinha. Os temas abordados nesse episódio são bem preocupantes: extinção das abelhas, uso de robôs para matar, uso das redes sociais para disseminar ódio e medo, espionagem, degradação do meio ambiente, entre outros assuntos. É o episódio que mais aborda temas sociais, porém mesmo com 1h30 minutos de duração, ainda não consegue se aprofundar em todos os temas, mas proporciona um belo episódio que deixa um gostinho de quero mais.

A 3° temporada de Black Mirror – a primeira produzida pela Netflix – conseguiu manter a essência da série, trazer críticas mais atuais e que englobam um público maior do que o anterior, proporcionando 6 belos episódios a serem apreciados. Charlie Brooker continua impressionando com tamanha maestria de suas histórias e a parceria com a Netflix não podia ter começado de forma melhor.

Avaliação

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