Jodie Comer e Sandra Oh em Killing Eve

Em sua estreia (2018), Killing Eve arrebatou o público e a crítica especializada com seu enredo. A série inovou na construção da trama como um todo e tentou se desvincular de todos os clichês do gênero espionagem, conseguindo realizar o que séries como Homeland e The Blacklist não conseguiram. Essas duas últimas têm em comum com a primeira fortes protagonistas femininas, mas que acabam, de uma maneira ou outra, sendo ofuscadas pelo seu co-protagonista ou um personagem masculino do elenco regular.

Dirigida por Phoebe Waller-Bridge e produzida por Sally Woodward Gentle, a segunda temporada de Killing Eve fortalece esses aspectos internos do “girl power” ao engatar uma trama concisa com um excelente roteiro e um elenco de peso. Embora o objetivo central não seja resumido por isso, é inevitável conter o impacto de uma série inteiramente protagonizada e produzida por mulheres.

Ao passo que o primeiro ano tinha um ritmo bem mais lento, porém frenético — que era empenhado em introduzir os personagens e a trama em si — o segundo traz um ritmo mais acelerado com o intuito de ir mais a fundo no desenvolvimento de Eve (Sandra Oh) e Villanelle (Jodie Comer) e da relação volátil entre as duas.

Após os acontecimentos do final da primeira temporada, a funcionária do MI6, Eve Polastri, continua na caça obsessiva da assassina Villanelle. A trama se renova com a adição de novos personagens e na conclusão de algumas pontas soltas. Traições são perdoadas e amizades são refeitas pelo o “bem maior”. Essa fórmula, do unir forças para a luta contra o mal, bastante usada no gênero, prevê exatamente o que acontecerá no desfecho da temporada.

Em outras palavras, a ficção nos mostrou em outras oportunidades o quanto o perdão, às vezes inconcebível, pode ser fatal aos personagens. Embora a história fique previsível nesse quesito, temos motivações subjetivas dos personagens que justificam essas ações.

Killing Eve
Reprodução/ BBC America via: IMDb

Como dito anteriormente, a segunda temporada pretendeu focar mais na relação e nos sentimentos existentes entre Eve e Villanelle. A química entre as duas é impressionante; em uma determinada cena, onde as duas se encontram separadas por uma porta, é possível sentir o calor e a excitação das personagens e como as atrizes desempenham tão bem o que é esperado delas.

Jodie Comer brilha novamente no papel da psicopata Villanelle. Seu instinto assassino misturado com seu humor irônico, às vezes quase infantil, é algo que faz a personagem ficar mais perto do público, gerando um sentimento agridoce. Isso porque não sabemos se devemos odiar ou criar empatia pela vilã, que mata e manipula sem o menor resquício de remorso.

Enquanto a primeira temporada deu mais destaque a Sandra Oh, aqui vemos claramente o desenvolvimento de Comer e Villanelle unificado. A carga emocional que a direção de Waller-Brigde quer passar através da personagem é dada na medida certa, juntamente com a atuação de Jodie, que garantiu no último dia 12 de maio o prêmio BAFTA de melhor atriz pela sua performance na série.

Killing Eve
Reprodução/ BBC America via: IMDb

Sandra Oh também mostra o quanto evolui, despindo-se da eterna Cristina Yang, de Grey’s Anatomy. É incrível como Sandra consegue ir sempre mais a fundo com sua personagem e podemos constatar como a interprete de Eve pode se transformar em outros trabalhos futuros. Não é à toa que a atriz levou o Globo de Ouro de melhor atriz em série dramática em 2019.

O elenco de apoio também não deixa a desejar. Fiona Shaw (Harry Potter) é um exemplo disso. A atriz, que interpreta Carolyn Martens, chefe da operação de Eve no MI6, rouba a atenção do público em suas cenas, mostrando toda a sua maestria e imponência. Até Niko (Owen McDonnell), marido de Eve, que é uma espécie de espantalho na trama, desempenha o que é esperado dele. É ótimo ver como a direção não foca muito na relação dos dois, deixando os episódios mais fluídos e livre de dramas desnecessários.

Em relação a parte técnica, Killing Eve se sobressai em sua ótima direção de arte e fotografia, que se encaixam-se perfeitamente com o figurino e as mais belas paisagens da Europa. Além disso, não podemos deixar de citar o ótimo trabalho realizado com a trilha sonora que mescla positivamente à ambientação dos cenários, as emoções dos personagens e a dramaticidade correta de cada cena, principalmente as protagonizadas por Villanelle.

Entretanto, a segunda temporada também deixa várias questões do primeiro ano da série em aberto. Essas pontas soltas poderiam ter sido melhor desenvolvidas nesse momento e Killing Eve perde um pouco do foco central em não entregar essas repostas.

Apesar disso, a série se consagra como um dos dramas mais bem sucedidos do primeiro semestre de 2019, tendo um desfecho dramático que abre várias possibilidades para o seu terceiro ano, já confirmado.

Avaliação
Ótimo
9
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Jornalista e produtor de conteúdo da Matinê, escreve sobre séries, livros e filmes. Do romance a ficção científica, tem um relacionamento sério com histórias que cativam e encantam.