Godzilla II: Rei dos Monstros
Godzilla II: Rei dos Monstros / Divulgação: Warner Bros.

Há uma mítica envolvendo Godzilla (2014), de Gareth Edwards (Rogue One: Uma História Star Wars): o monstro gigante nada mais é do que um herói incompreendido. Assim como os filmes do King Kong humanizam o animal gigante, a mais recente versão do monstro japonês tende a fazer o mesmo processo.

Dito isso, o Godzilla passa, então, a ser visto com outros olhos. Apesar de, dentro do universo de monstros da Warner/Legendary, ainda ser incompreendido por alguns (referindo-se aos personagens), o “Titã” agora é um salvador. Com isso, Godzilla II: Rei dos Monstros cria a expectativa de que a criatura irá se provar como o grande herói da Terra.

O novo filme, assim como dá continuidade ao que foi começado em 2014, traz novos elementos ao seu universo. Personagens centrais do longa anterior não retornam aqui, mas são substituídos por um núcleo protagonizado por Vera Farmiga (Bates Motel), Millie Bobby Brown (Stranger Things) e Kyle Chandler (Bloodline).

A nova história centra os personagens dentro da Monarch, organização que está por trás de tudo que acontece nesses filmes (Godzilla, Kong: A Ilha da Caveira e este, Rei dos Monstros). Ademais, passam-se cinco anos desde os acontecimentos que destruíram a cidade de São Francisco no longa anterior.

Godzilla II: Rei dos Monstros
Godzilla II: Rei dos Monstros / Divulgação Warner Bros.

Godzilla II, em sua intenção única de ser entretenimento, tem um grande desafio a cumprir: preencher pouco mais de duas horas de projeção não apenas com lutas de monstros gigantes. Nessa missão, o filme falha. O roteiro usa artifícios genéricos para se justificar, como uma organização criminosa disposta a tirar o controle da Monarch e “libertar” as criaturas adormecidas para que elas retomem o controle do planeta – com a ideia de estabelecer, novamente, uma ordem natural.

Embora fraco, o roteiro funciona para a proposta, o equívoco, porém, está em colocar muitos elementos em um único filme. São tantos acontecimentos entorno da mítica do Godzilla, que boa parte deles não são aproveitados.

Assim como o longa de 2014, Godzilla II cria a expectativa de algo grandioso. No primeiro filme, isso se resume a aparição do Godzilla e do seu confronto com os MUTOs. Aqui, a princípio, Rei dos Monstros constrói uma série de embates entre o Titã e sua principal rival, Ghidorah.

O problema, entretanto, é simples: mesmo criando expectativas de um grande embate colossal entre os dois titãs, Godzilla II não cumpre com isso. O longa se constrói baseado em pequenos embates, todos eles interrompidos (com total anti clima) por interações humanas que não se sustentam.

Godzilla II: Rei dos Monstros
Godzilla II: Rei dos Monstros / Divulgação Warner Bros.

Boa parte da projeção, por exemplo, se resume em uma discussão banalizada sobre deixar o Godzilla livre para defender a humanidade e intervir na luta. O longa, no entanto, cria um novo mundo, adaptado a existência dessas criaturas, mas não pensa em mostrar que a humanidade também se preparou para combatê-las. Embora apresentem uma nova arma, a mesma não é exibida como algo que pode bater de frente com os titãs.

Além disso, e retomando o mal aproveitamento dos monstros, Godzilla II insere novas criaturas, além de Ghidorah, mas deixa-as esquecidas ao longo da projeção. Rodan, por exemplo, surge imponente e protagoniza a sequência de ação mais empolgante de todo o longa.

Depois disso sucumbe ao esquecimento, sendo mero coadjuvante. A lógica que o filme parecia construir encaminhava-se para uma série de embates entre Godzilla e essas criaturas secundárias. Parecia uma espécie de narrativa de videogame, onde cada monstro representaria um nível diferente, até que chegasse a vez o do “chefão final”, Ghidorah.

Sem empolgar na trama e nas lutas, Godzilla II: Rei dos Monstros ainda não impressiona visualmente. A estética não chama atenção e soa, a todo momento, mal resolvida. O longa não tem textura – algo que marcou, por exemplo, o feito de Guillermo del Toro em 2013 com Círculo de Fogo (Pacific Rim).

Godzilla II: Rei dos Monstros
Godzilla II: Rei dos Monstros / Divulgação Warner Bros.

Não há como exigir de um filme cujo objetivo exclusivo é entreter uma grande parcela do público, que apresente algo muito profundo no seu desenvolvimento. Mesmo assim, é o mínimo que o longa tente fugir de armadilhas genéricas que escondam, minimamente, a sua principal intenção. Godzilla II não se preocupa com isso, e mesmo levando-se a sério, parece não esconder suas fragilidades – o que o torna um filme sem sustância.

No fim das contas, Godzilla II segue passos frenéticos e deslizantes, livrando o público do compromisso de sequer pensar em algo a respeito do filme e da sua história. Godzilla II: Rei dos Monstros não entrega, com qualidade, o seu principal objetivo: um entretenimento empolgante e divertido.

Avaliação
Regular
5.0
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Sou jornalista, fundador e editor da Matinê Cine&TV. Escrevo sobre cinema e séries desde 2014. No jornalismo tenho apreço pelo cultural e literário, além de estudar e trabalhar com podcasts. Além dos filmes e séries, também gosto de sociedade e direitos humanos.