Ramon Francisco (superior esquerdo) como Lico, Raquel Villar (inferior esquerdo) como Jasmin, Gabriel Leone (centro) como Pedro Dom, Digão Riberiro (centro superior) como Armário) e Isabella Santoni (inferior direito) como Viviane na série 'Dom' | Crédito: Divulgação / Amazon Prime Video

Nova série brasileira do Amazon Prime Video, Dom chega nesta sexta-feira, 4, ao catálogo da plataforma. Criação de Breno Silveira, importante cineasta brasileiro dos últimos anos (realizador de filmes como Entre Irmãs, Gonzaga – de Pai pra Filho e Dois Filhos de Francisco), o seriado tem oito episódios na primeira temporada, e traz Gabriel Leone e Flavio Tolezani como os protagonistas Pedro e Victor, respectivamente.

A história é baseada em fatos reais, algo que é ressaltado em todos os episódios. O foco é a jornada de Pedro Dom (Leone), famoso assaltante de condomínios de luxo no Rio de Janeiro, e de Victor Dantas (Tolezani), pai do protagonista e policial civil. Trata-se, na verdade, de um épico carioca sobre tráfico de drogas, vício, crime, família e amor.

A filmografia de Breno Silveira, somada a criação e direção da série 1 Contra Todos, é um elemento importante para pensar sobre o que esperar de Dom. O cineasta costuma contar histórias fortes, com muito apelo dramático enquanto aprofunda relações e personagens. Essas características que compõem os seus trabalhos aparecem e marcam sua nova série.

Na primeira meia hora do episódio que abre a temporada, uma cena chama a atenção: Pedro, em um surto, grita, chora, empurra e distribui socos no pai; Victor Dantas para de xingar o filho e aceita o extravaso, acolhe os ataques até que eles se tornem um abraço, ou um pedido de abrigo. O momento conturbado representa muito do que será visto na sequência dos capítulos, e mesmo que soe clichê, expõe a relação complicada de duas pessoas que se amam.

Flavio Tolezani como Victor Dantas em cena da série ‘Dom’ | Crédito: Divulgação / Amazon Prime Video

Pedro e Victor têm personalidades parecidas, mas traçaram caminhos diferentes. O jovem de vinte e poucos anos cedeu às drogas e ao crime, o pai, em meio a ditadura militar, escolheu lutar contra a cocaína que chegava ao Brasil na década de 1970. Esse paralelo é um recurso importante para a forma que Breno Silveira escolheu para contar essa história.

A presença do passado e do presente somada a união e separação desses personagens, são características que marcam as obras do cineasta, e acertadamente estão presentes em Dom. Esses elementos são importantes para a construção das relações dessas figuras, explorando seus traumas, carências e desejos, assim como solidificando suas personalidades.

É partir dessa identidade narrativa que Breno Silveira convida o espectador para conhecer a história e os personagens. A comunhão de elementos que vão além do roteiro e compõem o conjunto da obra enriquecem a experiência imersiva proposta pelo cineasta e sua equipe. Este trabalho se torna ainda mais genuíno com dedicação do elenco.

Em uma coletiva de imprensa que antecedeu em pouco mais de uma semana o lançamento do seriado, Breno Silveira revelou que as filmagens aconteceram em ordem cronológica. Quer dizer, apesar da narrativa ser um emaranhado de momentos que alternam entre presente e passado, Dom tem um trabalho de decupagem muito expressivo. Pois a cada episódio a combinação dos flashbacks com o presente têm um papel importante para que o desenvolvimento da história faça sentido na proposta de Silveira.

Gabriel Leone (centro) como Pedro (Dom) Dantas em cena da série ‘Dom’ | Crédito: Divulgação / Amazon Prime Video

Outra informação levada pelo cineasta para a conversa com os jornalistas era de que tudo foi filmado sem a utilização de estúdio, logo, em locações reais. Essa afirmação tem dois significados. O primeiro é o senso de realidade empregado a história a partir das localidades que foram escolhidas para as gravações. E segundo que somando isso a forma de captação, com uma câmera inquieta na mão, garante-se um material de atuações com emoções muito palpáveis.

Esses atributos técnicos da composição da série são os elementos que mais podem conquistar os espectadores. Não basta apenas uma boa história, é preciso contá-la da melhor forma e ter nas características cênicas um bom produto. E tudo isso está presente nesta produção.

Por se basear em uma história real, todos os spoilers de Dom estão disponíveis na internet. Basta uma rápida pesquisa para encontrar toda a história do protagonista e os livros “Dom”, de Tony Bellotto, e “O Beijo da Bruxa”, de Luiz Victor Lomba (o verdadeira Luiz Dantas). As obras, obviamente, ajudaram Breno Silveira a construir a trama, mas não sozinhas. O cineasta foi procurado por Luiz Victor em sua produtora há cerca de 12 anos, e depois de colher seus depoimentos pôde, junto com a sua sala de roteiristas, entrevistar inúmeras pessoas envolvidas com a história. Algo que enriqueceu muito a narrativa.

Dom é uma produção marcante para o início da caminhada das produções nacionais Original Amazon. Breno Silveira é um contador de histórias ímpar e sabe extrair momentos genuínos dos seus protagonistas. Foi assim com Nanda Costa, Marjorie Estiano e Letícia Colin no épico do cangaço Entre Irmãs (2017), e é assim com Gabriel Leone, Flavio Tolezani e companhia nesta série.

Gabriel Leone como Pedro (Dom) Dantas em cena da série ‘Dom’ | Crédito: Divulgação / Amazon Prime Video

Dom tem um roteiro que acerta na escolha de como construir dessa história, no desenvolvimento dos seus personagens e nas suas relações. Tem também uma composição estética que valoriza ainda mais a produção. É sem dúvida um dos títulos mais interessantes e promissores do Amazon Prime Video.

Com claras influências em filmes como Tropa de Elite (2007) e Cidade de Deus (2002), com uma cena específica homenageando este segundo, Dom é resultado de um trabalho carregado de empenho. A frase de Breno Silveira que marcou a entrevista coletiva da série é um perfeito resumo sobre os acertos da produção: “a vida não faz sentido, mas o roteiro precisa fazer”.

Dom faz sentido antes mesmo de todas as suas peças serem encaixadas. Entrega para o público não só uma boa história, mas uma experiência narrativa muito rica. A trama dá ao espectador emoção, revolta, drama, ação e imersão. Mesmo que na vida real a história de Pedro e Luiz Victor já tenha acabado, o maior mérito de Dom é fazer com que cada indivíduo acredite na possibilidade da ficção ser diferente da realidade.

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Avaliação
Ótimo
9.0
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Sou jornalista, fundador e editor da Matinê Cine&TV. Escrevo sobre cinema e séries desde 2014. No jornalismo tenho apreço pelo cultural e literário, além de estudar e trabalhar com podcasts. Além dos filmes e séries, também gosto de sociedade e direitos humanos.