imagem do filme Uma Batalha Após a Outra
Teyana Taylor como Perfidia “Uma Batalha Após a Outra”. | Crédito: Cortesia da Warner Bros. Pictures.

Os últimos trabalhos do diretor Paul Thomas Anderson para o cinema (Licorice Pizza e Trama Fantasma) não davam indícios do que esperar do seu novo filme. Em Uma Batalha Após a Outra, o cineasta hollywoodiano mostra estilo semelhante ao de grandes filmes de Quentin Tarantino e dos irmãos Ethan e Joel Coen, mas com a sua identidade. No longa-metragem, que entra em cartaz a partir desta quinta-feira, 25, Anderson conta uma história épica sobre os Estados Unidos da atualidade.

Para isso, o roteiro escrito por Paul Thomas Anderson convida os espectadores a acompanharem a história de Bob, vivido por Leonardo DiCaprio. O ex-revolucionário do grupo French75 volta a ser perseguido por um antigo inimigo, o Coronel Steven J. Lockjaw (Sean Penn). Com isso, o protagonista parte em uma jornada de fuga e busca pela filha, Willa (Chase Infiniti), que está desaparecida.

Uma Batalha Após a Outra realiza nos minutos iniciais uma longa introdução ao contexto no qual está inserido. Desta forma, o filme apresenta o movimento revolucionário, suas causas, membros e a luta comprada por eles. Não se trata de construir heróis e vilões, mas sim de entender os lados polarizados da história.

Neste desenvolvimento, Uma Batalha Após a Outra olha para o mundo real e identifica a problemática dos discursos e ações anti-imigrantista de Donald Trump. Tudo isso é visto pelo conflito entre diferentes perspectivas: de um lado a capitalista (que enxerga imigrantes como, no máximo, mão de obra barata) e de outro, quem entende tratar-se, na verdade, de seres humanos em busca de uma vida melhor.

Ao estabelecer este cenário, Paul Thomas Anderson não precisa de muito tempo para estabelecer os seus personagens. Ghetto Pat (DiCaprio), Perfidia Beverly Hills (Teyana Taylor), Junglepussy (Shayna McHayle), Steven J. Lockjaw (Penn), entre outros, já apresentam personalidade na forma em que seus nomes são pronunciados.

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(Ao fundo) Teyana Taylor como Perfidia e (no centro) Sean Penn como Steven J. Lockjaw em “Uma Batalha Após a Outra”. | Crédito: Cortesia da Warner Bros. Pictures.

Embora estas figuras sejam representações muito claras da mensagem que carregam, há ainda um tom levemente caricato em suas existências na tela do cinema. Sem exageros no desenvolvimento dessas figuras e mesmo trazendo esta atmosfera para o filme, Paul Thomas Anderson mantém sua história sobrea e assombrosamente espelhada no real.

Aderindo à miscigenação de gêneros, Uma Batalha Após a Outra mistura com maestria um thriller político de ação, drama e tragicomédia. Com esse estilo, o filme remete a obras consagradas como Fargo – Uma Comédia de Erros (1996) e obras tarantinescas como Pulp Fiction (1994). Nesse sentimento, ainda é possível lembrar de obras mais recentes que seguem uma linha deste formato narrativo, como Joias Brutas dos irmãos Safdie.

Embora o longa-metragem faça lembrar destas referências, Paul Thomas Anderson constrói um filme único que pode ser lembrado não apenas pela originalidade, mas por prover uma experiência cinematográfica brutal de narrar um épico que deixa no pano de fundo grandes conexões com o mundo real.

Além de impactar pelos motivos já explicados, Uma Batalha Após a Outra deixa a sua marca também pelas interpretações. Se o longa-metragem de Paul Thomas Anderson impressiona pela técnica, estilo e narrativa, o elenco torna o filme uma peça para ficar na memória.

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Leonardo DiCaprio como Bob em “Uma Batalha Após a Outra”. | Crédito: Cortesia da Warner Bros. Pictures.

Ao olhar os nomes envolvidos na produção, é possível idealizar que os mais conhecidos sejam os grandes destaques. No entanto, não é exatamente o que acontece. Com todo o elenco em ótimos trabalhos, há quem chame ainda mais a atenção. Neste sentido, Teyana Taylor, intérprete da revolucionária Perfidia Beverly Hills, e Sean Penn, no papel do Coronel supremacista branco, se colocam como dois grandes nomes do filme.

Teyana Taylor dá vida a uma personagem impulsiva, explosiva e feroz, cuja existência está diretamente atrelada à sua razão de viver. Sua potência em tela reverbera por toda a projeção. Mesmo quando sai de cena, a atriz torna impossível o esquecimento de Perfidia Beverly Hills.

Da mesma maneira, Sean Penn entrega um personagem repugnante e de fisicalidade ímpar. O coronel apoia a supremacia branca enquanto vive a contradição de amar aqueles tidos como impuros pelos seus aliados. A casca bruta que envolve Steven J. Lockjaw é preenchida por camadas densas que representam não apenas a profundidade do personagem, mas de um mau anti humanidade que se espalha em discursos extremos.

Estas e outras camadas estão espalhadas do início ao fim de Uma Batalha Após a Outra. Com este subtexto, o título do longa-metragem faz ainda mais sentido durante as suas 2h50min de duração. Sem didatismo, Paul Thomas Anderson cria uma narrativa relevante envolvida pelo alto nível cinematográfico conhecido da sua filmografia. Não se trata de um longa-metragem que universaliza um discurso a partir de um olhar para o mundo, mas sim de uma história poderosa que coloca o dedo no centro da ferida.

Assista ao trailer de Uma Batalha Após a Outra