Imagem: Adoro Cinema
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A história de um dos crimes mais famosos do mundo, o julgamento do século, um crime sem solução… O povo contra O.J. Simpson, de um lado a justiça e de outro um dos maiores ídolos do esporte norte-americano, uma personalidade amada por uma nação inteira, mas poucos realmente o conheciam. American Crime Story renova a TV com sua narrativa maravilhosa e traz um elenco renomado para as telinhas.

Faz muito tempo que assisto séries do FX, acho as produções deles muito boas e algumas são sensacionais. Por ser um espectador do canal comecei a entender que existem algumas séries que são feitas para serem particularmente transmitidas por esse canal e American Crime Story se encaixou perfeitamente nas características da emissora. Sem sombra de dúvida é uma das melhores séries do ano, aguardo ver ela ser indicada para o Emmy e provavelmente ao Globo de Ouro (posso até estar exagerando um pouco, mas tem os seus méritos), pois além de ter muita qualidade no roteiro e na produção, o show trouxe nomes renomados do cinema para a TV, um bom exemplo é simplesmente John Travolta.

Não é de hoje que fatos reais são recontados pela televisão e pelo cinema, mas não é sempre que o realismo fica evidente nas produções, que se preocupam em dizer que mesmo sendo uma história real o que estão fazendo é pura ficção. ACS não deixa de ser ficcional, mas de longe percebe-se como ela se aproxima da realidade. A contextualização história do racismo, da evolução da mídia, do entretenimento sensacionalista estão ótimos. Uma prova disso é o recente filme Straight Outta Compton: A História do N.W.A. (Negros com Atitude) que também mostrou muito bem essa questão do racismo dentro da música e que traz semelhanças muito reais para a sua história.

Imagem: Banco de Séries
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American Crime Story é cheia de particularidades, onde a história de um julgamento é estabelecida por alguns paradigmas que são quebrados de acordo com o desenvolvimento dos episódios. Um julgamento é composto pelo lado da acusação, onde os acusadores devem mostrar a verdade e o  culpado, e pela defesa, onde os advogados devem mostrar a verdade e a inocência do réu. Imagine você em 1994 vendo um ídolo ser acusado de duplo assassinato qualificado, tendo histórico de violência doméstica com todas as provas apontando que só ele poderia ser o culpado… Com certeza ele seria condenado. Porém, o julgamento do século se passa em uma das épocas mais delicadas da história, onde a policia que deveria dar exemplo acaba cometendo crimes e acusando pessoas apenas pela cor, onde ainda existiam membros da Klu Klux Klan (grupos racistas com ideais nazistas que defendem a supremacia branca nos Estados Unidos) estão infiltrados em órgãos públicos, sendo policiais, promotores, juízes e políticos.

Com os argumentos anteriores quero dizer que por ser um herói nacional (mesmo que a cor da pele e a raça não fossem assumidos pelo próprio O.J.) se torna muito maior do que um assassinato. O julgamento de um crime caracterizado por fortes elementos acaba virando um show televisivo onde acusação quer prender um assassino e a defesa quer combater a injustiça, o racismo, ou seja, o caso acabou focando 95% em um crime racial e os outros 5% no verdadeiro crime. São dois contrapontos muito extremos, ambos estão muito longe um do outro. Essa característica foi marcante na série porque quando a acusação falava você pensava: “O.J. é culpado”. Mas quando a defesa se apresentava: “Acho que ele é inocente.” Até agora eu ainda não decidi se ele era culpado, se era vitima de racismo ou se foi pego no meio de uma conspiração. Este último é mais um detalhe muito realístico que foi tratado na série, as conspirações. A década de noventa é famosa por essas teorias da conspiração, em que muitas ideias eram contestadas por terem elementos conspiratórios e foi uma época que o fim do mundo estava próximo, na virada do século para ser mais preciso. Então toda a contextualização que rodeava o caso foi muito exposta durante a temporada.

American Crime Story - John Travolta
Imagem: Banco de Séries

A figura da mulher ser forte ou não também foi um elemento que ganhou muita notoriedade em certa altura da temporada. Ganhando mais evidência pela atuação, fantástica, de Sarah Paulson. A atriz que esteve nas temporadas de American Horror Story mostrou mais uma vez grande versatilidade ao interpretar Marcia, uma mulher solitária, com fantasmas do passado e do presente sempre ao seu redor. Paulson deu vida, característica e personalidade a uma personagem muito bem desenvolvida, tanto por ela como pelo roteiro da série. As ótimas atuações não ficaram apenas nela, tivemos um John Travolta muito caricato, colocando gestos com as mãos e um sotaque que deram a ele momentos muito bons. Courtney B. Vance foi uma grande surpresa para mim nessa temporada. Vivendo o advogado Johnny Cochran, responsável por momentos e discursos impressionantes. A voz de Courtney foi um ponto fortíssimo nessa construção, além de toda a sua ideologia e estratégias que em alguns momentos acabavam surpreendo.

O protagonista (que na verdade não teve tantos protagonismos assim) Cuba Gooding Jr. teve a atuação necessária para viver O.J. Simpson. Ele não precisava ter momentos fantásticos, surpreender, fazer e acontecer assim como os outros personagens. O que Cuba deveria ter eram momentos em que a ambiguidade de seu personagem ficasse em evidência porque em todos os momentos, mesmo dizendo ser inocente, havia uma expressão de culpa, existia algo nele que dizia “posso ser inocente nas mesmas porcentagens de ser culpado”, ou seja, completamente em cima do muro. Por fim Sterling K. Brown teve muitos altos e baixos durante a temporada, agradou e desagradou sendo Chris Darden. Teve seus bons momentos, mas mesmo assim não me agradou, ressalvo apenas um bom momento dele, em que eu realmente gostei, mas mesmo assim não foi de encher os olhos. A minha decepção foi David Shwimmer, que tinha um papel difícil por causa do envolvimento emocional de Robert Kardashian (sim pai de Kim Kardashian). Mesmo que David estando bem encaixando no personagem as atuações dele não convenceram, toda a questão da dúvida que o personagem teve foi muito forçada. Para falar a verdade esperava muito mais dele.

Imagem: Banco de Séries
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O único ponto de deixou a desejar foi a escolha dos grandes momentos da história. O climax deveria ter sido a prova das luvas, mas pela maneira que foi arquitetado e jogado pelos advogados acabou sendo um momento um pouco apagado em relação a outras partes mais marcantes da história. Mas fora isso tivemos questões muito bem trabalhadas, por exemplo, mostraram muito bem todos os lados da história, aprofundaram apenas o necessário da vida particular dos envolvidos, no caso Marcia, Cochran e do Juiz Lance Ito que por se tornarem pessoas públicas tiveram alguns segredos do passado sendo revelados. Outro ponto positivo foi a hora escolhido para mostrar o Juri, porém teve alguns momentos em que isso foi um pouco corrido por ter ficado perto do final, mas mesmo assim foi mostrado na hora certa.

A primeira temporada de American Crime Story surpreendeu, superou expectativas e entregou um conteúdo com muita qualidade. É curioso comparar os atores escolhidos com os personagens reais do acontecimento, pois são muito parecidos. Ryan Murphy, Scott Alexander e Larry Karaszewski estão de parabéns por este e seus outros trabalhos. Se você ainda não assistiu a série, arranje um tempo e faça a maratona, é muito boa mesmo. Eu, por exemplo, esperei a temporada acabar para assistir tudo de uma vez só, e foi muto bom. O Matinê recomenda e muito The People vs O.J. Simpson: American Crime Story, com 10 episódios em sua primeira temporada.