Amy Poehler e Tina Fey fazem um ótimo trabalho em “Irmãs”, trazendo mensagens, lições e muita besteira.
Sisters 01

Quando assisti ao trailer de Sisters pensei que seria aquelas comédias bem bobas fazendo coisas sem sentido e sem propósito para as pessoas rirem e nada mais. Porém, quando fui ver o filme vi um trabalho bem feito. A história é Paula Pell (Tudo Por Um Futuro) e a direção de Jason Moore (A Escolha Perfeita), mas Tina Fey e Amy Poehler também assinam na produção, trazendo um tom muito pop e realista para a comédia.

O longa lembra muito do que Tina Fey faz em Unbreakable Kimmy Schidt (seriado de comédia da Netflix), onde ela satiriza completamente o realismo e traz a série para o mundo real, o faz com que a história tenha um contato muito próximo com a cultura pop. Fazer isso, tanto no cinema como na televisão, é muito inteligente porque as pessoas se sentem mais próximas da história. Por exemplo, quem não riu na parte em que as três mulheres estão assistindo a um episódio de Game of Thrones? Isso simboliza totalmente o que estou falando. Ainda mais quando a Brinda (Maya Rudolph) diz:

Assistiria Tyrion batendo na cara desse filho da mãe centenas de vezes sem cansar.” (sobre o episódio 1×02 de Game of Thrones, The Kingsroad) “  e a outra amiga comenta, “Sabia que o Jack Gleeson era o menino em Batman Begins?” com revolta Brinda responde: “Quando você usa os nomes do atores, não está se permitindo entrar na fantasia que criaram para nós.”

Além de conectar o roteiro ao mundo real, o que muitas comédias não fazem, Sisters ainda traz de volta a juventude da geração da década de 1970 e 1980. Todos os colegas de escola das Irmãs já estavam na casa dos 30 ou quase 40, casados, com filhos, ou solteirões morando com os pais.

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As duas irmãs já tinham suas vidas independentes, ou pelo menos tentavam, uma obviamente dependia dos outros, mas sem admitir, e a outra tinha total independência financeira, mas não admitia que as pessoas pudessem viver sem sua ajuda. Cada personagem tem um mundo a parte, que acabou convergindo junto para os dos outros e nesse momento eles puderam voltar a ser o que um dia já foram na última festa na casa das irmãs Ellis.

O interessante é que a história trouxe algo que particularmente nunca vi ser explorado por adultos. O dilema dos pais, já velhos, quererem vender a casa onde os filhos cresceram, onde a altura era medida no marco da parede, onde a arvore favorita da infância estava ali no quintal, trazendo todo o passado, brigas, bons momentos em que viveram na casa e que por algum motivo ou sentimento Kate e Maura entraram em estado de negação. É muito difícil simplesmente deixar um lugar tão importante para a gente, e isso é compreensível, mas ao invés de ficarmos nos lastimando por que não podemos comemorar isso e fazer com que tenha uma despedida inesquecível? Existem muitos sonhos americanos que nós conhecemos através do cinema, como a festa de formatura do ensino médio onde tudo pode acontecer, o que você deixou de fazer nos três anos do 2º grau você estava livre para concretizar, criar uma empresa e ficar rico com ela, casar com o homem dos seus sonhos e a última festa antes da vida adulta.

As duas irmãs pegaram todos esses paradigmas e trabalharam de uma forma diferente e usaram eles como a última festa da nossa casa e o que eu preciso para finalmente dar o rumo correto na minha vida. A mensagem presente em Sisters é muito bacana porque é um filme que traz vários acontecimentos de uma forma engraçada, mas que não se restringe em ter uma mensagem no final do filme, seria muito clichê se isso acontece. Pelo contrário, o filme te ensina muitas coisas durante o desenvolvimento da história e te passa muitas mensagens de uma forma inesperada. Você vê personagens infantis, sem noção, que só fazem besteiras, mas sem mais nem menos falam algo inteligente. Prova disso é a cena que Kate dá o conselho para irmã, sobre o que pode acontecer durante o silêncio.

Outro fator muito bem colocado no filme é que no momento em que todos decidem viver como eram no passado os dramas e dilemas da vida se rejuvenescem, principalmente na hora do flerte ou das brincadeiras. O melhor é quando a vida real bate de volta a porta da casa, abrindo os olhos das protagonistas vendo suas mentiras e erros de conduta fazerem um grande estrago em suas vidas, por alguns momentos é claro. Mas tudo isso se tornou necessário para que cada um acordasse, visse seus erros e partir daí darem um novo rumo para suas vidas.

Sisters 03

Sisters em si não é tão maravilhoso quanto parece, as piadas demoraram um pouco para entrar no filme, no caso a graça demorou para aparecer. Para uma comédia 120 minutos de duração é um longo caminho, mas nesse caso duas horas de filme passaram como se não fosse nada porque no momento em que você entra para a história ele fica muito boa. Uma comédia diferente, mais inteligente, com ingredientes não convencionais e com mensagens/lições de vida muito bacanas. Uma curiosidade legal foi a participação do lutador de W.W.E. John Cena, que já participou de Descompensada e Busca Explosiva.

A forma com que foi desenvolvendo seus arcos foi bem feita, apesar de que tudo foi um começo muito rápido, mas na minha opinião tudo foi bem encaixado depois de um certo tempo. Não é um filme maravilhoso (como disse anteriormente), mas é um bom filme feito da maneira certa com os ingredientes certos.

Nota da crítica: 3,5 (de 5,0)

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Sou jornalista, fundador e editor da Matinê Cine&TV. Escrevo sobre cinema e séries desde 2014. No jornalismo tenho apreço pelo cultural e literário, além de estudar e trabalhar com podcasts. Além dos filmes e séries, também gosto de sociedade e direitos humanos.