Imagem: Divulgação/ Sony Pictures
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Há poucas semana atrás a Sony Pictures divulgou em seu perfil no Facebook o trailer de O Homem nas Trevas, e a receptividade do público foi ótima, assim como no seu final de semana de estreia em que o longa, surpreendentemente, foi um sucesso, ficando em primeiro lugar nos EUA. Fato é que o filme tem uma premissa ótima, é muito inteligente em vários momentos, sabe construir muito bem uma cena de tensão, mas em determinado momento a maionese desanda, literalmente.

O longa mostra três jovens, dois com personalidades extremamente clichês e enjoativas, e uma girl power, que a nível de personagens é o ponto forte do filme. A protagonista de Suburgatory, Jane Levy é realmente uma ótima atriz, que já havia estado no remake de A Morte do Demônio, mas em O Homem nas Trevas é que ela acha um bom caminho. A personagem de Jane, Rocky, é bem interessante e é a única que tem motivações suficientes (e a única que teve as motivações trabalhadas) para justificar aquilo que está fazendo. Basicamente, o longa se trata de três jovens que fazem pequenos furtos e resolver, como despedida, fazer um roubo maior, envolvendo um valor alto em dinheiro, que tinha tudo para ser fácil, mas no fim das contas virou uma noite bem intensa.

O filme começa de forma bem interessante, apresentando personagens, crescendo a história até o começo do grande climax que se estende por quase todo o filme, alcançando níveis maiores de tensão a cada novo acontecimento. Não se trata de um terror propriamente dito, trata-se de um suspense muito bem desenvolvido. Suspense, esse, que é muito inteligente, chega a ser impressionante em alguns momentos.

Imagem: Divulgação/ Sony Pictures
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O personagem cego vivido por Stephen Lang (que na minha opinião é conhecido por fazer personagens chatos, sendo este apenas mais um) usa os sentidos da audição, toque e olfato como suas principais armas, combinados com o seu treinamento do exército. Com apenas 13 linhas de fala durante todo o filme, o tal homem cego é um ótimo antagonista, e para ficar melhor ele poderia ter menos falas ainda. São poucas as explicações que ele precisa dar ao longo da história, as a dicção do ator com a combinação da falta de voz em algumas cenas incomodam bastante, pode até ser chato da minha parte falar isso, mas incomoda sim.

O jovem diretor Fede Alvarez (A Morte do Demônio, 2013) chama bastante a atenção para a construção das cenas de suspense e tensão. De fato o rapaz tem méritos e talento nesses dois elementos que são bem marcantes durante o filme. Só o único problema dele é a previsibilidade. O barato de um bom suspense, seja ele de tensão ou dramático, são as surpresas e no desenvolvimento dessa história elas são bem poucas. A filmagem de Alvarez é o que compromete a história, pois em vários momentos temos um plano aberto, onde a câmera começa a dar zoom e fica claro que ela está se aproximando de um determinado objeto, que depois irá ter um papel importante na história. Isso gera uma quebra de expectativa antecipada e gratuita, pois na hora você pensa “Hmm, ele vai usar aquilo para fazer alguma coisa“, por isso O Homem nas Trevas perde muitos pontos no fator surpresa. Fora que de um determinado momento para o fim você já consegue ser capaz de adivinhar tudo o que irá acontecer.

Mesmo com esse grande problema, o diretor sabe contar uma história grande. Com isso quero dizer que ele sabe esconder o jogo, pois o longa tem sua história central, e por trás disso tem um algo a mais que é muito bem trabalhado e inserido, na base do clichê, é claro, mas é um mérito de Alvarez.

Imagem: Divulgação/ Sony Pictures
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A tensão é o que move o filme, que como um todo tem pouquíssimas falas, comprando com produções normais. Em vários momentos ficamos movidos apenas pela pouca trilha sonora e  muitos sons ambiente, pois só assim entendemos o ponto de vista do antagonista. Aliás, tal ponto de vista tem uma cena sensacional ao longo da história, onde as luzes são literalmente apagadas e os personagens se encontram no mesmo breu que o homem cego. É uma joga de mestre fazer essa cena e mostrar como é a visão do homem cego (que não tem nome, é apenas O Homem Cego). Outro ponto sensacional e muito bem aproveitado é na questão do som, existem cenas que piram completamente os sentidos do cego, deixando-o completamente desnorteado. São pontos de extrema inteligência do roteiro e que chamam muito a atenção.

Mas como o título diz “‘O Homem nas Trevas’ começa bem, mas não se sustenta até o fim“, já vemos que nem tudo é uma maravilha no filme do diretor uruguaio. O longa tem uns 30 momentos em que você pensa que é o final, mas ele não acaba, e só posso definir isso como muito chato. Você está ali, assistindo, se aproximando do fim, mas quando vê ele não acaba e temos mais um climax pela frente. Isso acontece de novo, de novo, de novo e de novo, tornando-se massante e cansativo. Fora que nesse momento a qualidade da produção diminui absurdamente, passando de um suspense de tensão bem construído, com vários elementos de composição e conceito inteligentes, para um filme super trash com resoluções ridículas.

Ver uma mudança tão drástica assim é decepcionante, pois inicialmente se vê um suspense muito comprometido em ser ótimo (e mostrou tudo que poderia para ser sensacional), mas vai decaindo demais, perde totalmente a seriedade, com personagens que não morrem nunca. Chega a ser completamente surreal, ainda mais para um filme que se preocupa em ser realista, até certo ponto.

Mesmo sendo um suspense inteligente, com bons níveis de tensão, muito bem dirigido por Fede Alvarez e com uma atuação ótima de Jane Levy, O Homem nas Trevas não se sustenta, não consegue levar o comprometimento inicial até o fim e decaí muito a sua qualidade, que não era pouca, ao longo do filme.

 

Nota do autor para o filme:

[yasr_overall_rating size=”medium”]