Imagem: Divulgação/ Paramount Pictures
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O título nacional de Fences, Um Limite Entre Nós, pode ser usado para diversas explicações sobre o filme, principalmente ela forma como a peça teatral homônima é adaptada para os cinemas. Com uma direção conflituosa de Denzel Washington, a obra cinematográfica traz uma história datada, já contada de outras formas, mas que valoriza as atuações do próprio Denzel e de Viola Davis.

Adaptação é uma palavra que se houve com frequência em relação ao cinema de alguns anos para cá. Literalmente, a palavrinha significa o ajuste de uma coisa em outro lugar, ou seja, a arte da adaptação é trazer algo usado de “tal” maneira para um outro local e usá-la de um jeito diferente, sem tirar a sua essência funcional. Basicamente, é isso que Denzel Washington tenta fazer, a diferença é que ele traz o teatro para o cinema e isso não funciona tão bem, principalmente porque mesmo com atuações dignas da sexta arte o diretor não teve competência o suficiente para sustentar o ritmo teatral da obra.

Denzel, como diretor, começa bem, usa os planos certos e consegue passar a ideia teatral para a película, mas ao decorrer dos diálogos pesados e inicialmente difíceis de acompanhar, Washington vai perdendo a mão e a força e começa a utilizar de planos estranhos e pouco convencionais. Assim, o diretor tenta passar uma impressão artística que não condiz com a fórmula usada na primeira meia hora de filme, onde há uma cena que se destaca pelo enquadramento, passando toda a sensação de imersão ao público – como se o mesmo estivesse dentro de um palco de teatro.

Utilizando de poucos cenários para sua história – sendo filmado, basicamente, nos fundos e dentro da casa, com algumas externas -, Um Limite Entre Nós não apresenta nenhum encanto visual, sendo visível do desperdício local na fotografia de Charlotte Bruus Christensen (que fez um ótimo trabalho em A Garota no Trem). Os figurinos, todos muito simples, quebram o mal aproveitamento da fotografia ambiente, e exaltam toda a humildade dos personagens.

Por vir do teatro, a história do lixeiro, Troy (Denzel), é carregada de diálogos pesados, corridos e que só se fazem interessantes pelas invenções melodramáticas e piadistas do protagonista, que mistura a eloquência de algumas histórias com outras de impacto que realmente aconteceram. Washington entrega uma atuação impecável ao personagem. Inicialmente, para prender o público, o longa é muito simpático e carismático, mesmo que não economize nas longas e corriqueiras frases do personagem, sendo até difícil de acompanhar. Porém, o protagonista tem sua ética totalmente questionável, já que ao longo da vida criou suas próprias convicções, além de idealizar o certo e errado de uma forma pessoal. Sendo este o fator mais interessante do subtexto bem intencionado do filme.

Nisso também se encaixar a atuação, primeiramente, contida de Viola Davis, uma das principais estrelas do cinema e televisão nos Estados Unidos, que vive o auge da carreira. A atriz, que começa ao melhor estilo feel good movie, precisa de apenas uma cena para se sobressair, tanto que por este pequeno momento memorável Viola ganhou sua indicação ao Oscar – além de colocar o filme e todo o elenco no bolso. No geral, a personagem é contida, já que o foco das atenções estão todas voltas à Denzel Washington como Troy. O restante do elenco, com exceção de Stephen HendersonMykelti Williamson, ambos muito bem naquilo que precisavam fazer, é bastante limitado. Os atores não parecem confortáveis com os papéis e assim acabam exagerando na teatralidade e esquecem o lado espontâneo dos personagens.

Imagem: Divulgação/ Paramount Pictures

Dependente das atuações e dos diálogos para contar sua história, Um Limite Entre Nós traz um significado mais condizente com a trama no título brasileiro do que no nome original, Fences (Cercas), pois a cerca, de fato, não tem grande relação entre o conflito de Troy e Rose – ganhando um significado analógico em relação a trama do casal. Com essas limitações, e uma história que tem a necessidade de ser falada pelos personagens, Um Limite Entre Nós cai ladeira abaixo com o final brega de sua história, onde a falta de Denzel Washington é totalmente sentida pelo elenco, que não sustenta o encerramento do longa.

Os profundos questionamentos sobre as atitudes e escolhas dos personagens causam uma boa impressão, pois são fruto de um trabalho de construção e aprofundamento de personagem muito bem feito pelo roteiro de August Wilson (que também escreveu a peça original). Com poucas exceções, uma delas a cena do Oscar, Um Limite Entre Nós não apresenta nada de especial, sendo inclusive questionável a sua indicação à Melhor Filme na principal premiação do cinema mundial. Com uma direção de conceitos conflituosos, o longa de Denzel Washington não soube impor um limite entre ser uma peça de teatro e uma adaptação cinematográfica, principalmente pela sua linguagem pouco acessível. E assim fica a impressão de que a peça seja mais interessante que o filme.

Avaliação

[yasr_overall_rating size=”medium”] (Razoável)