Reprodução/IMDb

The Handmaid’s Tale, em 2017, tornou-se um fenômeno cultural de extrema relevância no cenário atual da cultura pop, questionando ações da sociedade e da política, de um jeito que raras produções do cinema e da televisão conseguem fazer. O sucesso a levou ainda a arrecadação de inúmeros prêmios, todos merecidos, e a fez uma das séries mais importantes da década.

É natural, ainda, que para a segunda temporada, sejam geradas grandes expectativas. Mas, mesmo assim, há considerações importantes a serem feitas. A principal delas se diz respeito ao material base: a segunda temporada não tem apoio do livro, por tanto, deixa de ser a obra criada por Margaret Atwood em O Conto da Aia. Contudo, é de igual importância que The Handmaid’s Tale saiba dar seguimento ao que ela mesmo representa e ao que a autora do material original criou.

A segunda temporada não sofre, de fato, com problemas criativos. A sala de roteiristas sabe dar continuidade a história de June/Offred, mesmo sem o apoio da obra literária. É evidente, no entanto, que a qualidade do texto, em relação e comparação direta com a primeira temporada, diminuiu, principalmente porque a série se empodera do próprio discurso de representatividade que criou, e assume uma responsabilidade ainda maior com o público que atingiu com isso.

Apesar da queda, não brusca, na qualidade do texto (com inúmeras falas de efeito não orgânicas, diferentemente da primeira temporada), tudo o que fez The Handmaid’s Tale ter o seu renome atual continua lá. A série segue sendo uma das produções tecnicamente mais impecáveis da atualidades. A fotografia, trilha sonora e direção continuam como pontos fortes que valorizam ainda mais o trabalho de atuação do elenco.

The Handmaids Tale
Reprodução;IMDb

Outro ponto que se destaca na segunda temporada, este já esperado inclusive, é um escopo, ou olhar, maior sobre o universo criado na série. A história se expande, não só para as colônias, mas também para as crueldades que a República de Gilead ainda pode proporcionar. Com isso, The Handmaid’s Tale não só consegue dar continuidade a sua narrativa, como ainda enrique o seu universo, mostrando mais da distopia e trazendo ainda um contexto político externo sobre o que acontece dentro da República.

O segundo ano, em suma, não repete o mesmo brilhantismo que faz da primeira temporada um marco único na tv norte-americana, mas traz de volta tudo aquilo que trouxe The Handmaid’s Tale para os holofotes. O roteiro, porém, peca ao se alongar, os 13 episódios deixam a impressão de que a temporada dois poderia ser mais enxuta, tendo apenas 10 capítulos, como a sua antecessora.

Apesar de equívocos, não comprometedores – porém evidentes -, The Handmaid’s Tale está em sua melhor forma, e precisa, apenas, afinar o seu texto para recuperar o que a fez uma obra audiovisual singular em 2017. Aliás, assim como no ano um, a segunda temporada tem como marca as fortes atuações, Elisabeth Moss, como proprietária da série, está quase no mesmo nível que a fez ganhar quase todos os prêmios de atuação da Awards Season 2017-2018, assim como o restante do elenco, que se empanha em acompanhar a excelência da atriz principal.

The Handmaids Tale
Reprodução/IMDb

The Handmaid’s Tale, todavia, segue sendo um fenômeno cultural de extrema relevância, e uma referência técnica televisiva sem igual – provando que a TV pode, sim, ter o nível das grandes produções do cinema.

Avaliação
Avaliação: Ótimo
9.0
COMPARTILHAR
Sou jornalista, fundador e editor da Matinê Cine&TV. Escrevo sobre cinema e séries desde 2014. No jornalismo tenho apreço pelo cultural e literário, além de estudar e trabalhar com podcasts. Além dos filmes e séries, também gosto de sociedade e direitos humanos.