Cena do filme "Shazam! Fúria dos Deuses", em cartaz nos cinemas a partir desta quinta-feira, 16. | Imagem: Divulgação / Warner Bros.

Mais ação, mais grandioso e tão divertido quanto seu antecessor, Shazam! Fúria dos Deuses é um filme compromissado com o entretenimento do espectador. Do alívio cômico tradicional dos filmes de herói até a mescla entre aventura, lutas, aprendizado e emoção, o novo longa-metragem da DC Comics reforça a própria fórmula e procura sustentar ainda mais a personalidade que apresentou em 2019.

Fúria dos Deuses se passa dois anos após a história do primeiro filme. Billy Batson (Asher Angel), há cinco meses de completar 18 anos, vive o drama de sair do sistema de adoção. Com isso, os pais adotivos não tem mais obrigação de mantê-lo e seu medo atual é reviver um trauma do passado, o abandono. Por isso, junto dos irmãos, ele instituiu a regra de que quando houver um perigo, todos da família Shazam devem entrar em ação juntos.

Enquanto isso acontece, duas antigas deusas que perderam seus poderes por causa do Mago Shazam voltam em busca de vingança, pela morte do pai Atlas, e para recuperar os poderes mágicos do seu lar. Para isso, precisam vencer os campeões do mago.

Shazam! Fúria dos Deuses procura desenvolver melhor seus personagens principais, mas segue sem dar tanta profundidade aos secundários. Apesar disso, o filme mostra que compreendeu os acertos do primeiro longa, enquanto tenta elevar o nível do segundo. Isso acontece a partir do momento em que o humor dita o ritmo da narrativa enquanto se intercala com cenas de ação frenéticas e poderosas.

A presença dos embates e do humor são as principais características deste filme, que aposta muito em piadas internas. É nitidamente o filme mais bem-humorado da DC Comics até o momento. É um humor que claramente tenta conquistar a simpatia dos espectadores e que deixa muito claro o que o público pode esperar desta obra.

Cena do filme “Shazam! Fúria dos Deuses”, em cartaz nos cinemas a partir desta quinta-feira, 16. | Imagem: Divulgação / Warner Bros.

Apesar dos esforços, é importante dizer que Shazam! Fúria dos Deuses não tem nenhum compromisso ou intenção de entregar algo minimamente diferente de qualquer outro blockbuster. Apostar em uma narrativa e desenvolvimento simples parecem ser um passo seguro para o longa-metragem de David F. Sandberg.

Embora deixe muito evidente a sua opção por não inventar, Shazam! Fúria dos Deuses consegue ter identidade, mesmo podendo ser taxado como um filme “Sessão da Tarde”. Dentro disso, está aquilo que faz o filme funcionar: a clássica jornada do herói. Essa estrutura narrativa fica muito evidente ao longo da projeção, sobretudo nos momentos em que o sujeito precisa provar o próprio valor.

Se de um lado a jornada do protagonista é muito clara, por outro é preciso refletir sobre a presença dos outros personagens do filme. Mesmo que o longa trate sobre o Shazam e sua família, o protagonismo parece dividido entre ele e Freddy (Jack Dylan Grazer), isso porque a participação do irmão é crucial para o desenvolvimento da narrativa. E embora isso faça sentido para a história, é muito evidente que o desenvolvimento dos personagens não avança.

As funções deles na trama não são diferentes do que foi visto no filme anterior. Logo, Shazam! Fúria dos Deuses peca em não tentar levar seus personagens a outro patamar.

O mesmo também acontece com as vilãs. O antagonismo está com Helen Mirren e Lucy Liu, mas o trato com as personagens é bastante comum. Assim como em outros aspectos, a vilania também não inova. A motivação, mesmo existente e muito clara, não é um ponto de impacto ou preocupação. A narrativa óbvia faz o espectador prever os acontecimentos.

Não há problema em Shazam! Fúria dos Deuses se desenvolver de forma simplória, mas é importante não flertar com a pobreza narrativa. Não basta apenas mais ação ou uma escala muito maior e ambiciosa. Com tudo isso, é muito claro que Shazam! visa um público muito mais jovem enquanto tenta não subestimar o espectador mais velho.

Cena do filme “Shazam! Fúria dos Deuses”, em cartaz nos cinemas a partir desta quinta-feira, 16. | Imagem: Divulgação / Warner Bros.

Além disso, é importante o fato do longa jogar limpo com o espectador. Desde o começo, é nítido que o filme quer divertir, ser leve e entreter o público, e faz o que pode para isso. Seu terceiro ato, porém, traz momentos satisfatórios em meio a previsibilidade da história. Isso fica a cargo da relação emocional de cada indivíduo com os personagens envolvidos na trama.

Embora tenha elementos que enfraquecem o conteúdo do filme, Shazam! Fúria dos Deuses deve ser julgado por aquilo que quer entregar ao espetador. Ora, se o filme quer entreter e divertir, sem dúvida é muito competente. Com uma escala grandiosa, o longa-metragem faz jus ao que construiu para o personagem-título. Além disso, reserva surpresas que prometem arrancar boas risadas do público.

A questão que fica, porém, é: para o que servirá tudo isso? Com James Gunn sendo o grande cérebro dos filmes da DC Comics, a continuidade de Shazam! é uma incógnita. Logo, os planos audaciosos apresentados nas cenas pós-créditos, por exemplo, tornam-se questionáveis, afinal, se há risco de tudo isso não acontecer, por que mantê-los na história? Tudo isso pode depender do desempenho do filme nas bilheterias.

Sendo assim, com toda sua simpatia Shazam! Fúria dos Deuses tem potencial para arrebatar os espectadores e quem sabe virar o jogo a favor dos seus personagens.

Avaliação
Bom
7.0
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Sou jornalista, fundador e editor da Matinê Cine&TV. Escrevo sobre cinema e séries desde 2014. No jornalismo tenho apreço pelo cultural e literário, além de estudar e trabalhar com podcasts. Além dos filmes e séries, também gosto de sociedade e direitos humanos.