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Cláudia Abreu como Carla em cena do filme "Tempos de Barbárie - Ato I: Terapia da Vingança". | Imagem: Divulgação / Paris Filmes.

A história

Após uma tentativa de assalto, o carro de Carla (Cláudia Abreu) é alvejado de tiros que atingem a sua filha e deixam a criança em estado grave no hospital. Sem saber como lidar com todo o turbilhão de sentimentos e diante de uma polícia que não funciona, a advogada decide fazer da busca por justiça um ato de vingança em Tempos de Barbárie.


Opinião sobre “Tempos de Barbárie – Ato I: Terapia da Vingança

A tela inicial de Tempos de Barbárie – Ato I: Terapia da Vingança mostra dados de violência no Brasil, informando que cerca de 50.000 pessoas morrem por armas de fogo por ano no país. Deste número, aproximadamente 9.000 pela polícia.

A apresentação deste número dá a entender que haverá algum tipo de crítica, e é o que acontece de fato no filme de Marcos Bernstein. Carla, personagem vivida por Cláudia Abreu, se depara com uma polícia que não age, e vê que a filha se tornou apenas mais uma pasta em cima de uma mesa qualquer na delegacia.

Tudo isso é o que leva a protagonista a procurar vingança pelo que aconteceu com sua filha. No entanto, fica muito evidente que há muitas formas de interpretar a mensagem desse filme. A primeira, por óbvio, é apenas mais um filme de vingança, seja ao estilo de longas tradicionais do cinema de ação ou por obras mais brutais como Doce Vingança (2010). Há também como entender o longa-metragem como uma crítica social, que faz o errado para mostrar que o está errado.

Por outro lado, Tempos de Barbárie não deixa de refletir sobre o Brasil dos últimos anos, com uma população divida entre extremos e com cerca da metade do país movido pelo ódio. Esse, inclusive, é o sentimento que move Carla ao longo do filme, sobretudo contra o sistema – já que se depara com uma polícia que não investiga, mas que chancela e organiza o crime.

Só que o ódio, neste filme, vai muito além da indignação. O sentimento que ultrapassa a simples revolta faz com que Carla, e qualquer pessoa, pense de forma irracional. Desta forma, ao entrar em contato com a personagem de Júlia Lemmertz, – uma terapeuta que comanda um grupo de ajuda – faz o contraponto de quem procura se conformar com uma tragédia e seguir com a sua vida.

filme "Tempos de Barbárie - Ato I: Terapia da Vingança"
Cláudia Abreu (esquerda) e Júlia Lemmertz (direita) em cena do filme “Tempos de Barbárie – Ato I: Terapia da Vingança”. | Imagem: Divulgação / Paris Filmes.

Durante esses acontecimentos, Carla entra em contato com um colega de trabalho com quem poucas vezes conversou. O personagem, vivido por Alexandre Borges, já passou por uma situação parecida, e procurou justiça com as próprias mãos.

Além de discutir sobre o ódio e criticar o sistema, Tempos de Barbárie ainda fala sobre o fácil acesso as armas no Brasil – que, desde 1º de janeiro vem tendo as medidas criadas pelo governo Bolsonaro (2018-2023) revogadas pelo terceiro mandado de Lula. A partir disso, o filme também discute sobre como uma pessoa armada se empodera perante ao outro e o quanto isso é perigoso.

Tempos de Barbárie – Ato I: Terapia da Vingança pode até ser um passatempo para quem gosta do gênero dos filmes de vingança. Mas ao se inserir nessa categoria, a história propõem um interessante estudo social de personagens e contexto político e ideológico. É importante fazer essa correlação com o período vivido pelo Brasil entre 2018 e 2022, pois certamente há quem possa achar que tudo o que acontece neste filme é certo. E é neste ponto em que Tempos de Barbárie pode tomar rumos perigosos com suas ideias.

O longa-metragem dirigido por Marcos Bernstein tem como forte as atuações de Cláudia Abreu e Júlia Lemmertz, que sustentam a trama. A história, por outro lado, procura apelar para exageros que a fazem flertar com o melodrama, algo que está entranhado na atmosfera e nas cores desenvolvidas para o filme.

No entanto, se de um lado há atuações que prendem o espectador, de outro há uma montagem que tenta dar ainda mais ritmo e dinamismo a esta narrativa. O resultado, porém, é uma sucessão de cenas que se atropelam e pouco são contextualizadas no filme. Isso não quer dizer que elas não façam sentido, mas claramente se justificam pelas falas de efeito que alguns personagens proferem.

Tempos de Barbárie – Ato I: Terapia da Vingança é um filme que deixa suas ideias muito claras, assumindo o risco da ambiguidade ao retratar uma história contextualizada em um momento político e social bastante dividido do país.