Em 2014, Christopher Nolan trouxe aos cinemas o grandioso Interestelar. Com uma proposta distinta e premissa semelhante, Denis Villenueve cria em A Chegada o seu Interestelar. Mas diferente de Nolan, a inovação de Arrival (título original) não é no visual (apesar de achar soluções perfeitas no quesito), mas na narrativa simbólica do roteiro de Eric Heisserer.

Inicialmente o longa não desenvolve apenas a vida solitária da Dra. Louise Banks (Amy Adams), mas afirma que esta será a dona do filme. A personagem é a figura central de todo o enredo, sendo um grande acerto de Villenueve. A estratégia do diretor dá certo em dramatizar a ficção científica com um elenco competente, ainda mais por ter uma atriz de essência dramática muito forte como Amy Adams no papel principal.

Assim como acerta com a intenção de uma narrativa centralizada, o longa peca em apenas contextualizar assuntos relevantes dentro da trama. Fica totalmente estranho um filme de tal genialidade não dar atenção a uma construção básica de roteiro, deixando acontecimentos quase absurdos dentro da história. O fato acontece quando militares se rebelam ao ouvir opiniões na internet e resolvem colocar uma bomba dentro do ovni. Por tanto, a falta de construção na motivação desta ocorrência em particular é a única incoerência do longa.

Apesar de ser uma ficção científica de extrema riqueza, o ponto mais forte de A Chegada é o drama desenvolvido através da criação de relações empáticas entre o ser humano e o desconhecido. A história também carrega um subtexto que tende a quebrar paradigmas. É natural do ser humano hostilizar e afrontar o desconhecido, especialmente quando o mesmo lhe causa algum desconforto. Ao contrário disso, os personagens desenvolvem relações e comunicações com aquilo que não conhecem, lembrando alguns conceitos comunicacionais de 2001: Uma Odisseia no Espaço.

Cinematograficamente há um casamento perfeito entre roteiro, direção e composição sonora. Jóhan Jóhannsson traz aqui um de seus melhores trabalhos em trilha sonora. O conceito por trás da trilha em enaltecer a ascendência dramática da trama e construir o elemento misterioso sem perder a característica da sonara habitual de uma ficção científica, é admirável. Os melhores momentos que provam esta combinação são proporcionados pela montagem das cenas. Villenueve abre os planos, aproveita os espaços do ambiente e com um zoom milimétrico proporciona uma imersão prazerosa durante o filme.

a-chegada-02O diretor ainda consegue aplicar um de seus elementos mais marcantes, que é a qualidade em apresentar uma sutil e impactante reviravolta na história. Sem deixar que isso se torne batido em seus filmes, Villenueve inova com o uso de flashforward. O elemento é essencial para a construção da narrativa complexa do filme, que possui momentos didáticos totalmente acessíveis ao público. Além disso, A Chegada não cria a necessidade excessiva de se explicar, devido a sutileza de seu twist o longa não corre o risco de se tornar subjetivo ou incapaz de ser entendido. É a acessibilidade e empatia que fortalecem a fácil compreensão de uma trama inteligente como esta.

Sendo um dos melhores filmes do ano, A Chegada traz consigo uma forte inspiração em clássicos da ficção científica, como 2001: Uma Odisseia no Espaço de Stanley Kubrick. O uso da linguagem interpretativa se sobressai ao mudar o olhar sobre a quinta dimensão abordada por Nolan em Interestelar, tornando a compreensão de enxergar o futuro muito mais simples – e ainda dando o direito de escolha a personagem em alterar ou não os acontecimentos posteriores de sua vida. Denis Villenueve acerta em cheio com o longa, e todas as escolhas do diretor são os maiores méritos do filme ao lado do roteiro – que teve um pequeno deslize ao longo do percurso.

Avaliação

[yasr_overall_rating size=”medium”] (Ótimo)