Resumidamente, Star Wars sempre foi sobre a eterna luta do bem contra ao mal, e até então nenhum filme questionou este seguimento. Os Últimos Jedi, no entanto, subverte essa lógica e tenta questionar este princípio ao abordar uma Força que possa estar em equilíbrio no centro de tudo, fugindo do bem e do mau. Porém, indo a fundo em seu embasamento principal, o longa de Rian Johnson descobre que o equilíbrio de uma balança está nas suas extremidades, e para se ter um equilíbrio verdadeiro com o poder negro de Kylo Ren (Adam Driver) seria necessária uma força equivalente.

Os Últimos Jedi traz uma compreensão sobre o cerne de Star Wars que poucas vezes se viu depois de “O Império Contra-Atraca” (1980), e este talvez seja o mais importante depois do clássico citado, quando o assunto é a mitologia da franquia. Fora isso, havia muito em jogo para Os Últimos Jedi assim como para a história como um todo, o filme precisava trabalhar com a morte de Carrie Fisher, que se juntou com a força em dezembro de 2016. Rian Johnson respeita o papel da personagem, e em uma cena simbólica o diretor presta uma belíssima homenagem a atriz e mostra que ela e a Princesa Leia são figuras eternas no coração de todos os fãs de Star Wars.

Johnson compreende as características principais e mais marcantes da saga, o senso de aventura, o space opera e como dar uma vida real a guerra e a esperança. Com isso, o diretor (que também assina o roteiro) foge das armadilhas, ou mesmices, que o filme poderia trazer (como invadir uma nova Estrela da Morte, ou uma instalação terrestre com uma arma de potência equivalente). Assim, Rian Johnson entende que Star Wars é muito mais que uma fórmula narrativa de ação e aventura, e o diretor se propõe a desafiar essa lógica aplicando momentos emblemáticos da saga em uma nova roupagem, e em novos personagens.

Star Wars: Os Últimos Jedi vai além ao ser uma grande passagem de bastão, é um filme que aborda um mesmo conflito com diferentes gerações, onde uma viveu em prol da guerra, enquanto a outra já está cansada do conflito entre o bem e o mau. A jornada de Rey (Daisy Ridley), diferente da de Luke Skywalker (Mark Hamill), consegue ser mais original, pois a nova protagonista entende que existe algo dentro dela e que precisa controlar e compreender isso – além de ter se voluntariado para aprender mais sobre a Força, ao invés de ser “a escolhida“, assim como Luke. E justamente por ser mais decidida e emocionalmente cativante, Rey encarna o espírito Jedi de um jeito diferente, mas maravilhosamente bem-vindo.

Rian Johnson consegue equilibrar os dois motes principais da saga ao tratar a Força como pano de fundo para a guerra – ou a busca pela esperança dentro de um cenário pessimista de um universo sucumbindo na escuridão -, ou, ainda, como algo que tem uma séria influência dentro do conflito, sendo fonte de esperança para um lado e confiança para outro. É interessante que ao invés de seguir pelo óbvio nos desdobramentos das batalhas, o diretor optou por ser mais estrategista do que fazer apenas o feijão com arroz tradicional da saga – a ausência de um embate com uma nova Estrela da Morte é o que melhor consegue provar isso.

Os Últimos Jedi, dentro de tudo isso, ainda tem a consciência de que é o filme central de um trilogia e que precisa ser a ponte entre começo e fim. Assim, o longa não se atrela a nostalgia, mas mostra que sabe referenciar a homenagear o próprio cânone. Além disso, Os Últimos Jedi é bastante equilibrado, condensa as suas aventuras e alívios cômicos (estes, aliás, dessa vez muito mais agradáveis do que em comparação com O Despertar da Força (2015), por exemplo), dando tempo de tela o suficiente para que no fim das contas, tudo seja bem desenvolvido.

Com tantos momentos importantes em jogo e disposto a fazer com dignidade uma passagem de bastão, Star Wars: Os Últimos Jedi tenta ser emocionalmente evocativo, e na maioria das vezes não consegue ser tocante o suficiente para realizar tal intenção. Contudo, apesar de demonstrar essa incapacidade como filme, há cenas, dentro disso, que são muito maiores do que a obra cinematográfica, e é por retratar personagens que representam a alma dessa franquia há momentos em que a emoção é inevitável. Assim, Star Wars apresenta o segundo filme mais importante de toda sua história, com um diretor que compreende e assume a responsabilidade com o que tem em mãos.

Os Últimos Jedi explora a mitologia da saga como pouco se viu na veia principal de Star Wars. Mesmo assim, Rian Johnson precisava provar que sabia usar isso ao seu favor e é inegável que o diretor conseguiu. No entanto, nem tudo que foi proposto é realmente aceitável. Finn (John Boyega), mais uma vez, embarca em uma sinuca de bico, e em grande parte, repete o que já foi visto dois anos atrás em O Despertar da Força, por exemplo.

Apesar de fazer escolhas questionáveis, Star Wars: Os Últimos Jedi representa o ápice da saga no cinema. É o filme que mais compreende e incorpora o espírito de Star Wars desde O Império Contra-Ataca, e tem tudo para ser um dos capítulos mais importantes da história da franquia desde a sua criação. Como filme, Os Últimos Jedi é uma das mais imersivas e prazerosas experiências cinematográficas de 2017. Como a peça de um quebra cabeça, o longa de Rian Johnson tem um brilho particular e sua importância indiscutível. Os Últimos Jedi é simbólico e representa o melhor momento de Star Wars na sua própria história, mas só o futuro irá dizer o quão icônica é essa passagem de geração com mais um adeus bastante significativo.

Mesmo assim, Star Wars reafirma que têm novamente um grupo de personagens icônicos e admiráveis que estão marcando a atual geração – talvez não com o mesmo impacto que Darth Vader, Luke Skywalker, Leia, Han Solo, Chewbacca, R2-D2, C-3PO, entre outros que marcaram época na trilogia clássica. Mas não é nenhum absurdo dizer que Rey, pelo menos, já marcou o seu nome na história de Star Wars.

[wp-review id=”16874″]