Joe, protagonista de 'Soul', a nova animação da Pixar lançada no Disney+ | Créditos: Divulgação / Disney+

É difícil imaginar crianças assistindo Soul, a nova animação da Pixar que está disponível no Disney+. Mas é possível crer que o estúdio compreende um fato simples: as crianças de ontem são os jovens adultos de hoje. Entender isso é dar um passo para a frente, afinal eles sabem que o seu público-alvo não está somente nos pequeninos.

Veja o trailer de Soul

Soul carrega uma excelência técnica sem igual. É possível que em alguns momentos você se veja questionando se os cenários se tratam mesmo de uma animação. Além do mais, em algumas cenas dá para identificar um refinamento impressionante com os pelos dos animais, os fiapos de roupas velhas e muito mais (e isso não é uma propaganda). Falando de tudo isso parece mais um grande avanço surpreende da Pixar, mas não é.

Há algum tempo as animações do estúdio trazem esse refinamento ou esse lado técnico impecável, é um processo natural realizado ano após ano atrelado ao desenvolvimento tecnológico. Mas Soul não chama a atenção pela perfeição com a qual foi realizado nestes quesitos. O filme de Pete Docter na verdade não quer ser glamourizado.

É de praxe que as animações além de terem uma história condutora, sempre querem trazer um aprendizado ou lição. Quando lançadas nos cinemas, as sessões desses filmes não são compostas apenas de crianças, mas também de adultos que levam os filhos, sobrinhos, irmãos e afins para conferir a novidade do momento. E outra, nem todo desenho é realmente uma Galinha Pintadinha ou uma Peppa Pig.

Joe, com voz de Jamie Fox, em cena da animação ‘Soul’ | Créditos: Divulgação / Disney+

Logo, mesmo deixando claro que quer provocar algo no espectador, Soul é uma animação despretensiosa. Essa intenção surpreende, pois quem não leu sinopse, não viu trailer e conseguiu se esquivar dos comentários nas redes sociais, certamente apertou o play para ver a animação sem saber o que esperar. É aí que pode haver uma surpresa, pois para onde Soul estaria disposta a lhe levar?

Ainda que com a clara intenção de provocar reflexões, Soul tem no seu forte, ou como sua principal qualidade, um discurso simples que ressalta a vida. Pete Docter, que dirige o desenho, propõe essa simplicidade em meio a um caos de confusões. Tudo na vida é tão complicado, escola, trabalho, faculdade, contas, a procura por uma profissão e o dilema entre fazer aquilo que você ama ou o que vai dar mais dinheiro. E a vida é maior do que isso. Às vezes você, ser humano, pode sim ter um propósito, uma missão, mas talvez você se preocupe demais com isso e esqueça de como é prazeroso viver.

É interessante, no final das contas, que Soul seja assim, simples e sem grandes pretensões. É uma história bonita que traz para o espectador um pedido singelo: “preste atenção em mim por um momento e respire, pense na sua vida”. Embora tenha essa simplicidade, é inegável também que exista uma ponta audaciosa em querer evocar esse momento em cada pessoa que assistiu a história.

Joe (na equerda) e Dorothea (direita e com a voz de Angela Bassett) em cena da animação ‘Soul’ | Crédito: Divulgação / Disney+

Mesmo deixando claro a sua mensagem, o barato de Soul é a forma como cada pessoa se conectará com essa história. A maneira como cada um entenderá e receberá esse convite de reflexão. Enquanto o desenho segue o padrão técnico de excelência da Pixar, sua trama acompanha o padrão programado de animações que fazem pensar e que tendem a emocionar. Seguir esse padrão não é demérito, mas reforça uma fórmula previsível de mais um desenho lindo que em algum momento vai te pegar pelo coração.

Embora tudo que foi escrito até aqui, é importante pensar no momento. O mundo segue sendo assolado pela devastação de um vírus invisível, e pela doença causada pela indiferença e a falta de empatia. Ter tais reflexões provocadas por esta animação, nos últimos dias de um ano tão difícil pode se fazer necessário e estar acima de qualquer julgamento fílmico baseado em impressões pessoais e falsamente imparcial desta crítica. A Pixar e o Disney+ acertam em cheio ao trazer, logo agora, a história de Soul.

Avaliação
Ótimo
8.5
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Sou jornalista, fundador e editor da Matinê Cine&TV. Escrevo sobre cinema e séries desde 2014. No jornalismo tenho apreço pelo cultural e literário, além de estudar e trabalhar com podcasts. Além dos filmes e séries, também gosto de sociedade e direitos humanos.