Mari Oliveira em cena do filme
Mari Oliveira em cena do filme "Medusa". | Imagem: Divulgação / Vitrine Filmes.

Um grupo de mulheres religiosas se esforça para manter a aparência do “bela, recatada e do lar” durante o dia. À noite se escondem atrás de máscaras enquanto repreendem e agridem outras mulheres tidas como depravadas. Essa é uma parte da premissa de Medusa, segundo longa-metragem da cineasta Anita Rocha da Silveira, que chegará aos cinemas brasileiros na próxima semana, dia 16 de março.

Mariana (Mari Oliveira) é integrante do grupo musical evangélico As Poderosas do Altar, e junto com suas amigas tenta manter a boa aparência, seja a que respeita os princípios da igreja ou a estética. Na história, além do fanatismo religioso e do conservadorismo, também são abordados temas como a violência doméstica, o mito da beleza e a história da figura mitológica que dá nome ao filme.

“Na versão mais conhecida do mito, Medusa era uma das mais lindas donzelas existentes, sacerdotisa do templo de Atena. Mas um dia ela cedeu às investidas de Poseidon, enfurecendo Atena, a deusa virgem, que transformou seu belo cabelo em serpentes, e deixou seu rosto tão horrível que uma mera visão transformaria os que a olhassem em pedra. Medusa foi punida por sua sexualidade, por desejar, por não ser ‘pura’” – Anita Rocha da Silveira, diretora de Medusa, a imprensa.

Embora traga para o enredo uma atmosfera distópica, Medusa faz um recorte muito próximo da realidade dos últimos anos no Brasil. Em 2015, a diretora lembra de acompanhar uma série de notícias de ataques contra jovens tidas como promíscuas. Estes fatos junto com o cenário conservador e o impulso de grupos fanáticos que ganhavam força no Brasil serviram de inspiração para a cineasta realizar o seu segundo longa-metragem.

Durante a coletiva, a Matinê teve a sua pergunta respondida pela cineasta, que foi questionada sobre suas referências visuais e sonoras por conta da presença de luzes neon (em seus dois filmes) e pela trilha sonora que evoca músicas dos anos 1980.

“No Medusa, desde o início a gente queria trazer a cor para o set, ter esse comprometimento […] a gente queria prestar homenagens a cineastas que a gente ama, principalmente dos anos 1970 e 1980”, afirmou a cineasta. “A grande inspiração estética é Suspiria, de Dario Argento, muitos giallos italianos e filmes como Carrie – A Estranha (1976). A gente queria realmente se aproximar dessa estética dos anos 1970 e 1980, desses filmes de horror que tem uma certa leveza, que não se levam tão a sério e vir com essa estética um pouco mais carregada”, explicou Anita Rocha da Silveira para a Matinê.

Captura de imagem da coletiva de imprensa do filme "Medusa". | Imagem: Arquivo pessoal.
Captura de imagem da coletiva de imprensa do filme “Medusa”. | Imagem: Arquivo pessoal.

Outro detalhe destacado pela diretora ao responder o questionamento do site foi sobre a predominância da cor verde em Medusa: “no Mate-me Por Favor a gente tinha o roxo como a cor principal e no Medusa já é o verde, que pra mim representa a natureza, esse lado da personagem da Mari que vai se encontrando mais com o seu corpo e com a sua sexualidade, que também lembra as cobras e lembra a medusa”.

Sobre o uso frequente de luzes neon, a cineasta explicou que isso está relacionado a uma das inspirações do filme, as igrejas evangélicas norte-americanas que utilizam este tipo de iluminação em suas acomodações. Além disso, Anita Rocha da Silveira ainda destacou as referências usadas para a trilha sonora de Medusa: “o Bernardo Uzeda é meu parceiro desde o meu primeiro curta e a gente tem certos gostos muito específicos, que é Goblin, Tangerine Dream, Carpinters, e no Medusa a gente foi com tudo nessas referências mais anos 1970 e 1980”.

Utilizando todos estes aspectos técnicos para contar a história de Mari, é importante ressaltar que estes temas relacionados às mulheres não são novidade na filmografia de Anita Rocha da Silveira. Seu longa de estreia, “Mate-me Por Favor”, já trazia a violência contra a mulher como foco ao retratar um serial killer na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro (assista ao trailer clicando aqui). Na história, um grupo de adolescentes precisava lidar com o fato de mulheres sendo assassinadas e estupradas enquanto viviam os descobrimentos da puberdade.

Situado em um universo alternativo de um futuro distópico distante, Medusa levará o espectador a uma jornada que reflete sobre a relação individual de cada um com a fé, além de fazer pensar sobre temas do dia a dia que fazem parte da sociedade brasileira. O filme pode ser assistido a partir de quinta-feira, 16, nos cinemas – de acordo com a programação da sua cidade. Abaixo, confira o trailer de Medusa:

COMPARTILHAR
Sou jornalista, fundador e editor da Matinê Cine&TV. Escrevo sobre cinema e séries desde 2014. No jornalismo tenho apreço pelo cultural e literário, além de estudar e trabalhar com podcasts. Além dos filmes e séries, também gosto de sociedade e direitos humanos.