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Margot Robbie como Barbie Estereotipada no filme 'Barbie'. | Imagem: Divulgação / Warner Bros. Pictures.

Dentro e fora das telas, Barbie, dirigido por Greta Gerwig, é um sucesso. Por conta de todo o barulho gerado pelo hype da estreia do filme, o filme da boneca mais famosa do mundo tornou-se a maior pré-venda da Warner Bros. no Brasil. Além disso, a Mattel, empresa dona do brinquedo, teve crescimento de 20,19% na bolsa norte-americana Nasdaq no último mês.

Para a estreia nos cinemas dos Estados Unidos, o filme deve arrecadar entre US$ 80 e US$ 100 milhões no primeiro final de semana. Nos shoppings são inúmeras as ativações com espaços instagramáveis, que vão de embalagens em tamanho real até o carro da Barbie. Tudo para o público tirar fotos, preferencialmente com alguma roupa rosa, e postar nas suas redes sociais.

Tudo isso ilustra brevemente o tamanho desse filme, que dentro do entretenimento é um dos longas-metragens mais esperados dos últimos anos. A divulgação do primeiro trailer e tudo o que veio depois acenderam a chama da expectativa, e agora o público pode contemplar tudo o que é o filme da Barbie.

No longa, Barbie, interpretada por Margot Robbie, se vê forçada a visitar o mundo real para combater acontecimentos estranhos que incomodam a sua vida perfeita na Barbilândia. Tudo isso já estava no trailer e na divulgação do filme como um todo. O que faltavam eram as motivações que levavam a protagonista a fazer isso, ou pelo menos mais detalhes sobre elas.

Ao longo da projeção o motivo real é revelado e é a partir dele que Barbie se transforma, não apenas a personagem como o filme também. Greta Gerwig assina o roteiro ao lado do marido, Noah Baumbach, e juntos criam um dos filmes mais importantes dos últimos anos.

Barbie guarda algumas boas surpresas para os espectadores, mas os méritos do filme estão na sua forma. O longa-metragem lembra títulos como As Aventuras de Alceu e Dentinho (2000), personagens de desenho animado que deixam o seu mundo para visitar o mundo real. Mas Barbie tem uma mensagem muito forte e objetiva nessa embalagem non sense.

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Margot Robbie como Barbie em cena do filme ‘Barbie’. | Imagem: Divulgação / Warner Bros. Pictures.

Desta forma, o roteiro de Gerwig e Baumbach têm plena noção do tamanho da boneca, do seu sucesso, de gerações e gerações de crianças que brincaram e ainda brincam com Barbies. Junto a isso está o que a boneca representa para as crianças e os fatores econômicos que fazem com que nem todas possam ter acesso a ela.

O filme é claramente uma crítica social e usa uma linguagem bem-humorada, mas principalmente acessível, para passar a sua mensagem. Não à toa a Barbie de Margot Robbie se define como estereotipada e tem, a partir do momento que acorda, um dia perfeito atrás do outro.

Além de um brinquedo, o que é vendido dentro da embalagem não é apenas uma companhia para as crianças, mas sim uma idealização. Um corpo ideal, um cabelo ideal, a cor dos olhos, as roupas, isso cria o imaginário e o estereótipo de uma pessoa magra, loira e de olhos azuis que terá o mundo aos seus pés.

A boneca Barbie, então, mexe com esse imaginário, com a idealização de uma vida perfeita, com a representação do que é a mulher ideal. A realidade, por outro lado, é muito diferente disso, muito mais cruel e desestimulante. São essas reflexões, nada sutis, que o texto do roteiro de Greta Gerwig e Noah Baumbach trazem e que fazem de Barbie um dos filmes mais importantes dos últimos anos.

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Margot Robbie como Barbie em cena do filme ‘Barbie’. | Imagem: Divulgação / Warner Bros. Pictures.

Não se trata de uma sátira ou uma comédia boba, trata-se de um filme que usa essas características para impulsionar a sua mensagem e provocar reflexões no espectador. O recado é cristalino, é desenhado em tela, e passado de forma muito objetiva para o público,.

Com noção desse papel social importante que cumpre, o filme não esquece de divertir. Todas essas reflexões, entranhadas nos diálogos e acontecimentos do enredo, aparecem de forma leve – exceto quando a leveza é deixada de lado para que o assunto receba o tom sério necessário. Os personagens parecem ingênuos. E esse tom colabora com o divertimento proposto pelo filme e é combinado com cenas musicais, e críticas a Warner Bros., DC Comics, ao capitalismo, a Mattel e outras tantas referências ao mundo pop.

Para acompanhar tudo isso, Barbie não esquece de investir no figurino e no design de produção. O material base existente da boneca ajuda muito nestes quesitos, mas o trabalho de transformar o que era brincadeira em um pequeno universo dentro da produção é primoroso e corrobora com todo o tom do longa-metragem.

Junto a isso, a direção de arte e a de fotografia fazem com que a explosão de cores não seja enjoativa na tela. Sejam os cenários ou os figurinos, tudo é muito atraente e impressionante aos olhos. É uma produção refinada e muito coerente com a identidade do filme.

No entanto, nada disso seria possível sem a cereja do bolo, que torna todo o cuidado com a realização e a confecção de um roteiro excelente em um filme como esse. Margot Robbie nasceu para interpretar a personagem. A atriz consegue carregar todos os dilemas, incômodos e inquietações da protagonista de forma muito genuína. Uma atuação graciosa que coroa os méritos da produção.

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Ryan Gosling como Ken no filme ‘Barbie’. | Imagem: Divulgação / Warner Bros. Pictures.

Isso vale para o Ken de Ryan Gosling, que assim como em Dois Caras Legais (2016), funciona muito bem em personagens mais cômicos. Seu Ken é bobo e cabeça oca, e tem a própria jornada ao longo do filme. Um dos baratos da história é o simples fato desses personagens questionarem não apenas a própria existência, mas também os seus propósitos essenciais. O mesmo se repete para o restante do elenco, que de modo geral cumpre com o que precisa.

Barbie é um importante acontecimento cinematográfico, movido por uma mensagem forte que não pode ser menosprezada pela sua roupagem non sense do filme. A linguagem de fácil compreensão torna a mensagem ainda mais universal. O monólogo de America Ferrera é um dos ápices do longa, e sem dúvida uma das cenas mais estarrecedoras do cinema em 2023.

O trabalho de Greta Gerwig na direção é crucial para que Barbie seja o que é. O ponto de vista dela é essencial para a história, as entrelinhas e reflexões que Barbie propõe. Suas camadas serão assunto pelos próximos meses. E se tudo der certo, o longa-metragem terá destaque não apenas pelo resto do ano, mas principalmente na próxima temporada de premiações. Barbie é um fenômeno, e deve ser apreciado sem moderação.

Avaliação
Ótimo
9.0
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Sou jornalista, fundador e editor da Matinê Cine&TV. Escrevo sobre cinema e séries desde 2014. No jornalismo tenho apreço pelo cultural e literário, além de estudar e trabalhar com podcasts. Além dos filmes e séries, também gosto de sociedade e direitos humanos.