A Netflix traz uma versão um pouco diferente de Desventuras em Série de 2004, mas ainda é bem similar

Desventuras em Série (Netflix)

Desventuras em Série abre 2017 para a Netflix. A adaptação chegou ao serviço de streaming trazendo mais uma confirmação sobre a qualidade das produções da Netflix, além de afirmar novamente que, assim como em Stranger Things, a nova série traz um elenco mirim muito bem trabalhado. Os Baudelaire, agora na TV, chegam para encantar o público, mas precisam mostrar uma história bem construída e dinâmica para não se tornar cansativa.

Seguindo, basicamente, a mesma história do filme em 2004, Desventuras em Série cria uma fantasia muito similar ao longa, mas a estética tem um contraste conceitual que reflete aos acontecimentos da história. O mundo é totalmente colorido, o uso do exagero das cores traz muita leveza para a pesada história dos Baudelaire. Como contraste, onde as crianças vivem (ou onde a sua história dramática é desenvolvida), a estética é acinzentada, mórbida e melancólica, enquanto as próprias crianças saíram de uma vida feliz e colorida – contraste que pode ser visto em suas roupas de cores vivas.

O primeiro episódio é bastante similar ao filme de Brad Silberling, afinal boa parte da história que será apresentada nesta temporada já foi vista, e a série reconta esse mesmo enredo com algumas diferenças. Mesmo trazendo de volta a essência do longa, Desventuras em Série da Netflix ainda consegue ser original, consegue se diferenciar da obra cinematográfica, criando uma fantasia tão boa quanto a do longa, mas ambas tem suas particularidades.

A série tem a possibilidade de aprofundar mais os personagens e trazer um retrato ainda mais rico dos mesmos, com uma história mais aprofundada. Isso se deve pela presença de Lemony Snicket (Patrick Warburton), que no cinema tinha a funções de escritor, e a história retratada no filme, era de fato os próprios pensamentos que o autor estava contando. Por outro lado, a Netflix inova em fazer de Snicket um tipo de investigador, e ao invés de criar e contar uma história o personagem mostra aquilo que ele sabe, aquilo que ele e seus contatos descobriram sobre a história dos Órfãos Baudelaire. A quebra da quarta parede funciona muito bem e não cansa. Ela é interessante porque Snicket traz um diálogo muito mais atrativo com o público. Sendo assim, a presença do narrador se faz necessária, pois o desenvolvimento da série não se preocupa em recontar tudo que já se viu no filme, “tim tim, por tim tim”.

Desventuras em Série (Netflix)

Neil Patrick Harris rouba a cena no primeiro episódio. Interpretando Conde Olaf (vivido brilhantemente por Jim Carey em 2004) o ator não deixa a desejar se comparado ao antecessor. Neil consegue trazer um personagem maléfico, totalmente vilanesco, uma figura engraçada e ao mesmo tempo perturbadora. A interpretação chama a atenção, principalmente belo número musical que é visto no episódio. Harris resgata elementos de um personagem que já havia dado certo, para criar o seu, um pouco menos caricato, mas mais ameaçador e que assim como essa nova versão fantasiosa da história, consegue se estabelecer com facilidade.

As crianças Baudelaire, interpretadas por Malina Weissman (Violet) e Louis Hynes (Klaus), juntos de Sunny, conseguem fazer a sua história funcionar. Os jovens atores passam muito bem tudo que acontece está afetando-os. A Juiza Strauss, que aparece bastante em “The Bad Beginning: Part One“, é muito bem interpretada por Joan Cusack (a Sheila de Shameless). A personagem, que terá um papel importante futuramente, é um acerto da produção. Fazê-la presente foi uma sábia escolha do roteiro.

O problema de Desventuras em Série é a sua própria história. Inicialmente é tudo muito bom, atrativo e encantador, mas a série vai precisar se esforçar bastante para manter este ritmo e não deixar a história entrar em uma zona de conforto, tornando-se cansativa – muito disso se deve por causa do filme de 13 anos atrás, fazendo a trama não ser uma grande novidade.

Pelo primeiro episódio, Desventuras em Série merece um voto de confiança, mas é inegável que a série traz diversas colagens do filme de 2004, com a intenção de respeitar a obra e criar a sua nova versão, com uma história mais profunda, com mais personagens e novidades no desenvolvimento. A curiosidade para saber como serão os próximos sete episódios é a grande motivação para continuar assistindo o programa. A Netflix começa 2017 com um bom acerto.

Avaliação

[yasr_overall_rating size=”medium”] (Bem legal)