Divulgação/Diamond Films

A lista de produções roteirizadas por Aaron Sorkin ainda não é muito extensa. Apesar disso, já é marcada por títulos ímpares como A Rede Social (que ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado) e Steve Jobs (Melhor Roteiro de Cinema no Globo de Ouro), além das suas criações para a TV, The Newsroom e West Wing: Nos Bastidores do Poder. A Grande Jogada, por sua vez, configura a sua estreia como diretor de cinema, onde Sorkin consegue impor o seu estilo com eficácia e intimidade com história fortes em um filme um pouco dilatado.

Sorkin tem uma habilidade em especial ao criar seus roteiros: o agora cineasta sabe centralizar suas história em um único personagem e faz com que eles sejam realmente os(as) donos(as) das atenções. Em A Grande Jogada esse trabalho é facilidade por Jessica Chastain (Armas na Mesa), que traz mais uma atuação vigorosa e potente para a tela do cinema. O estilo verborrágico do roteirista ganha contrastes prolixos no filme, pois ao mesmo tempo em que Sorkin sabe expor sua exata visão sobre como contar essa história ele também não consegue sintetizá-la.

São quase duas horas de projeção, que não cansam o espectador, mas desgastam em demasia. O texto é ágil, didático sem ser redundante, porém, muito carregado. Sorkin encontra uma maneira de tornar suas explicações em algo divertido, as cenas em que Chastain narra como Molly as explicações e estratégias do Poker são um prato cheio para encher os olhos do público. Narrativamente, o diretor consegue organizar muito bem as suas ideias na tela, as indas e vindas do passado para o presente e do passado recente, que é o ponto central tudo, não se perdem ou confundem, deixando o espectador rapidamente familiarizado com o seu ritmo e desenvolvimento. E essa acaba sendo a maneira do diretor manter o público interessado na história.

A cena inicial, que mostra Molly durante uma competição de Esqui já abre o longa dando a cara do seu diretor. A narração conduzida por Chastain, que estará presente por boa parte do longa, já mostra como é a abordagem do cineasta, convidando o público a embarcar na sua maneira de contar essa história. Sorkin consegue dar personalidade ao filme, há momentos em que A Grande Jogada mostra-se bastante estiloso, mas principalmente consciente em não perder seu rumo.

A Grande Jogada
Divulgação/Diamond Films

Apesar de não condensar o texto palavreado e não diluir a narrativa, para poupar o desgaste do espectador, Sorkin acerta em ter uma visão muito clara de quem é Molly Bloom e em fazer o seu público entender esse olhar. Jessica Chastain dá vida a mais uma personagem poderosa na sua carreira, mas aqui, Molly Bloom é muito mais sensível e humana do que a sua recente Elizabeth Sloane de Armas na Mesa. Na obra biográfica de Molly, Chastain dá novas facetas a uma personagem real que apenas viveu a vida como qualquer outra pessoa que passa por ganhas e perdas na sua trajetória.

Os conflitos da personagem são intensos e apesar de, certo modo, burlar a lei, Molly sempre tentou manter a ética até o momento em que seus princípios foram corrompidos pela ambição. No fim das contas, o pensamento da protagonista em não saber o que vem a seguir reflete sentimentos de incerteza e insegurança que, talvez, ela nunca havia experimentado antes. Contudo, Sorkin, em determinados momentos, não consegue encontrar um equilíbrio entre a história contada verbalmente pela personagem com aquela que entra de vez no mundo que Molly viveu e procriou.

Aaron Sorkin não faz nenhuma inovação ou mudança de paradigma dentro do gênero biográfico no cinema, mas se mostra capaz de fazer o espectador acreditar na história que está sendo contada, que é de fato baseada numa vida real. Seu poder de comunicação e a narrativa inflada refletem a consequência de estar pela primeira vez sentado na cadeira de diretor com o vislumbre de não picotar o seu filho pródigo.

Apesar da narrativa estufada, que faz o longa passar a sensação de ter mais de duas horas e vinte minutos de duração, Sorkin não erra em visão, dá o tratamento certo para sua história e entrega para o público a sua jogada vitoriosa. A Grande Jogada pode ser considerado como o primeiro Full House de Sorkin como diretor, que apoiado por Jessica Chastain e Idris Elba, em grande momento, dificilmente daria errado.

Avaliação
Avaliação: Bom
7.5
COMPARTILHAR
Sou jornalista, fundador e editor da Matinê Cine&TV. Escrevo sobre cinema e séries desde 2014. No jornalismo tenho apreço pelo cultural e literário, além de estudar e trabalhar com podcasts. Além dos filmes e séries, também gosto de sociedade e direitos humanos.