Contar duas histórias em um mesmo filme pode se tornar uma armadilha perigosa para o roteiro, principalmente se este não é capaz de interligar as duas linhas condutoras da narrativa de forma homogênea. O Estrangeiro sofre, basicamente, deste problema e se mostra um filme insatisfatório ao desenvolver duas histórias diferentes em sua única narrativa.

No longa, Jackie Chan vive o dono de um pequeno restaurante de comida chinesa que vê a filha morrer em um atentato terrorista. Tudo no filme, sem exceções, acontece muito rápido, mas essa velocidade parece muito mais apressada do que dinâmica ou envolvente. Com o mote inicial, O Estrangeiro parece dar peso ao até então protagonista, há cenas em que Chan precisa se esforçar para deixar evidente a dor do pai que perdeu tudo o que tinha na vida – pois posteriormente descobre-se mais do passado do personagem, mas isso parece ser apenas jogado dentro do filme para justificar o que e como o personagem faz o que é visto em tela.

Do outro lado, há a trama política e conspiratória do filme, esta protagonizada por Pierce Brosnan. Com isso, O Estrangeiro trabalha a rivalidade entre Inglaterra e Irlanda, criando tensão e instabilidade política entre os dois países. Inicialmente, pelo menos na primeira meia hora de projeção, o longa de Martin Campbell parece estar construindo um interessante thriller político que carrega consigo a criação de uma instabilidade entre um governo e outro. No entanto, o roteiro não consegue criar um ambiente em que todas as histórias consigam se desenvolver em um único sentido, caminhando para um mesmo lugar.

Contudo, o que se vê em tela são duas histórias diferentes que dependem uma da outra para evoluírem, mas que não parecem conversar entre si. O Estrangeiro faz o espectador acreditar em uma trama de vingança (por parte de Jackie Chan), faz com que a trama política seja interessante (na parte de Pierce Brosnan) e ainda consegue fazer o plot revanchista do grupo de terrorista ser instigante. Porém, nenhuma dessas histórias consegue concatenar uma com outra, são dois filmes em um, e fica evidente que se o longa resolvesse seguir apenas uma dessas linhas o resultado poderia ser outro.

A direção de Martin Campbell se perde com facilidade. O diretor não consegue encontrar um equilíbrio narrativo ameno para o filme, não sabe o momento de desenvolver a trama de um dos focos do longa e muito menos consegue passar um senso de urgência dentro da história – como já citado, a trama é apressada e mesmo assim o ritmo do longa cai em um marasmo que só acaba com o subir dos créditos. As cenas de ação são bastante genéricas, Jackie Chan consegue empregar alguns dos seus movimentos característicos – aquelas lutas inventivas e mirabolantes divertidas de assistir -, mas o tom sério do filme não permite espaço para o ator fazer aquilo que o público que está indo ao cinema conferir um dos seus filmes quer assistir. Trazer o diferente é sempre muito bem-vindo, desde que seja um diferente bem feito – e isso não aplica aqui.

O Estrangeiro é um filme bagunçado, cansativo, inflado mais do que se poderia aceitar, não sabe para onde ir com a sua história, não traz um senso de urgência ou de perigo para a história que também carece de boas atuações. Tudo no filme foge do controle do diretor, que não soube conduzir a narrativa de forma homogênea para que tudo em tela pudesse funcionar de forma mais orgânica.

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