Divulgação/Netflix
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Para os fãs de Black Mirror, aqueles mais aficionados pelas série antológica da Netflix, Black Museum é uma ode a história que a série construiu desde o seu primeiro episódio – leia uma matéria especial sobre ele aqui – apresentando um mar de referências para todos os capítulos anteriores da série. No entanto, dito isso, o que sobra para a realidade da season finale é um episódio com ideias inteligentes e desdobramentos previsíveis – mais do que, talvez, poderiam.

Em Black Museum conhecemos a jovem Nish (Leticia Wright), aparentemente de passagem quando precisa reabastecer a energia do seu carro. Na parada, ela entra no chamado Black Museum de Rolo Haynes (Douglas Hodge), e nele vemos uma espécie de coleção de relíquias de aparelhos tecnológicos já apresentados em Black Mirror. Assim como Nish, o público embarca em uma jornada imersiva em três contos distintos, e estes flertam brilhantemente a distopia tradicional da série com um horror psicológico nos momento em que os contos exploram o lado negativo do poder da tecnologia e como ela pode ser uma influência, e dependência, ruim na vida de cada usuário.

Durante os três contos conhecemos a poderosa criatividade de Black Mirror, que traz em seu último episódio desta temporada um roteiro afiado capaz de sustentar quatro história diferentes. Black Museum consegue entregar metáforas diferentes para cada uma das suas história, fazendo com que elas dialoguem com a principal obsessão da série: retratar a relação do homem com a sua tecnologia, chamando atenção para as consequências da sua utilização.

Apesar de ter um plot twist bastante previsível, é incrível a capacidade de concatenação do roteiro da série ao usar todas as peças que ele mesmo apresenta como fio de condução para a conclusão final do episódio. Leticia Wright, que protagoniza Black Museum, incarna bem a personagem e suas nuances dramáticas, tendo os minutos finais de episódio como ápice de sua atuação – quando a personagem abre mão do fingimento e apresenta intenções nocivas de vingança dentro do seu jogo de manipulação. O mesmo ainda se repete com o restante do elenco, mas aqui não há destaque maior do que a ótima protagonista e o seu arco final.

Contudo, apesar de ser um bom episódio, Black Museum traz algo um tanto inesperado: tratando-se de um museu de relíquias tecnológicas de Black Mirror, de algum jeito, o episódio indica que tudo pode estar interligado, que existe uma linha cronológica em que cada episódio tem um lugar próprio. E o mais interessante é onde essa linha pode nos levar – seria Metalhead um futuro distante dessa distopia? -.

Black Museum é um episódio instigante, que leva o espetador de um jornada de contos dramáticos e cheios de mensagens para passar. O roteiro amarra as pontas perfeitamente no fim de todas as suas contas, no entanto, falha em ir deixando migalhas grandes demais ao longo do caminho, possibilitando o espectador de adivinhar do que tudo se trata antes mesmo dos desdobramento acontecerem. No fim de tudo isso, o conflito entre a obviedade do episódio e seus questionamentos acaba dando um final morno para a temporada apenas boa de Black Mirror.