Imagem: Arquivo Pessoal/Rubens Oliveira
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Você já imaginou ser capaz de poder reviver qualquer momento da sua vida? Relembrar o que você fez quando tinha somente 2 anos? Ouvir o que as pessoas estavam falando, ampliar o que você viu, relembrar cada momento?  Em “The Entire History of You”, Black Mirror conta a história do casal Liam (Toby Kebbell) e Fion (Jodie Whittaker), que ao participar de uma reunião escolar, mostram o quão benéfico pode ser relembrar tudo que você fez, mas também como isso pode acabar com a sua vida.

Vivemos em um mundo tecnológico, em que estamos presenciando a III Revolução Industrial e desfrutando dos frutos da era digital. Câmeras, filmadoras, HD’s, Computadores, Redes sociais, Cartões de Memória, CD’s, DVD’s, Pen drives e uma infinidade de aparelhos que capturam e armazenam cada momento da sua vida. Não é prazeroso olhar para as fotos de 2011 salvas no seu computador e relembrar dos bons tempos? Sentir a nostalgia? A saudade da juventude dos velhos tempos? Mas e quando você olha uma foto e repara em algo que te traz más lembranças? Sentimentos ruins? Pode ser um(a) ex, um antigo amigo, uma pessoa que se foi. É realmente bom reviver o passado?

Black Mirror soube muito bem explorar este aspecto. O personagem Liam, ao desconfiar da fidelidade de sua esposa, utiliza do ‘grão’ – um aparelho implantado atrás da sua orelha – para reviver cada momento de desconfiança que ele sentiu, analisar cada detalhe, ouvir o que sua esposa estava conversando com outro homem, tudo porque sentiu uma leve desconfiança. Claro que Liam só conseguiu fazer isto graças ao ‘grão’ e o seu poder divino de reviver cada momento da sua vida, mas e se ele não possuísse o ‘grão’? Ele estaria passando por tudo isso? Toda essa desconfiança e paranoia?

Uma das críticas deste episódio, que me marcou bastante, foi a cena onde Liam e Fion estão transando, porém eles praticam tal ato utilizando memórias de transas passadas, onde o prazer era verdadeiro, ainda existia amor e confiança um no outro. A crítica é clara e objetiva, o ser humano tende a querer reviver o passado em momentos de crise, pois lidar com a dura realidade é de mais para o ser humano. Podemos notar isto em movimentos racistas, onde pessoas que se sentem ameaçadas, com medo, tentam por meio de o ódio espalhar o caos e a intolerância, buscando uma supremacia que lhe garanta alguma segurança sobre a sua realidade.

Imagem: Arquivo Pessoal/Rubens Oliveira
Imagem: Arquivo Pessoal/Rubens Oliveira

A principal crítica deste episódio é como ter acesso ilimitado a todos os momentos da sua vida pode te mudar, te transformar em uma pessoa diferente, instável e até mesmo ameaçadora. Liam ao desconfiar da fidelidade da esposa, revive cada momento de desconfiança e isso começa a mudar ele, principalmente a  sua personalidade. Ele se torna cada vez mais obsessivo pela busca da verdade. Ele estaria realmente sendo traído? Logo ele, que achava ter uma vida boa? A mulher da sua vida, com quem ele teve uma filha era infiel? Sua filha era realmente sua? Tantas incertezas e o fato de poder reviver cada uma delas graças ao ‘grão’ levou Liam ao limite, trazendo o pior dele a tona.

No final Liam perde a esposa, a filha, o emprego. O mais irônico de tudo é que Liam revivendo tudo que perdeu, com o ‘grão’, decide retirar o aparelho, e ao tirar o aparelho ele também perdeu toda a sua memória, já que sua memória não era realmente sua, e sim de um pequeno aparelho, que o levou a destruição, o levou ao nada.

Black¹: Achei muito engraçado que durante o episódio inteiro os personagens não se lembravam de muitas coisas, o que é irônico, já que eles têm acesso a todas as suas memórias.